Comprar criptomoedas requer cuidado e sangue frio de investidor

    POUPADOR PRECISA TER DINHEIRO EM ATIVOS DE MENOR RISCO ANTES DE APOSTAR EM MOEDAS DIGITAIS

    Autor: DANIELLE BRANT

    Altos retornos são acompanhados de forte oscilação, e falta de garantias devem ser consideradas

    Os sucessivos recordes da Bolsa brasileira neste ano têm disputado atenção de investidores com a moeda digital bitcoin, que acumula valorização ainda maior que a de índices acionários do país.

    criptomoeda passou a entrar nos relatórios de casas de análise de investimentos, que destacam o potencial de ganhos ao se comprar o ativo: no ano, a alta é de 276%.

    Como comparação, a Bolsa brasileira subiu 25% no mesmo período. A Usiminas, ação com melhor desempenho do Ibovespa —o índice que reúne os papéis mais negociados—, avança 132%.

    A valorização expressiva esconde, porém, os riscos envolvidos em investir em criptomoedas como os Bitcoins.

    Um deles é a forte oscilação que a moeda digital sofre. Quedas e altas diárias na casa dos dois dígitos são comuns. Se os ganhos empolgam, as baixas são um teste para quem tem aversão a perder dinheiro, mesmo que possa recuperá-lo depois.

    “É para quem é ultra-agres-sivo. Deve ser encarado como uma estratégia de diversificação extrema”, afirma o planejador financeiro Janser Rojo, da associação Planejar.

    Antes de comprar bitcoin, diz, o investidor deveria percorrer um caminho de gradação de risco começando pela renda fixa, passando por fundos multimercados (que têm uma parte do dinheiro de aplicações conservadoras) e renda variável (como ações).

    O bitcoin viria ainda depois de derivativos (contratos que derivam de outro ativo, como ouro e boi) e aplicação em Câmbio tradicional (como fundos que compram dólar ou euro), para Rojo.

    “Tem que ser uma aposta do investidor em uma tecnologia que ele acredita.”

    Avaliação parecida tem Fernando Pavani, presidente da empresa de soluções cambiais BeeTech. “Não é recomendado que pessoas físicas apliquem mais de 5% do patrimônio nessas moedas digitais. Elas não são especialistas nisso, podem não ter aproveitado o melhor momento para entrar”, diz.

    ESTRATÉGIAS

    Para começar a operar é preciso apresentar documento de identificação com foto, CPF e comprovante de residência para cadastro. Guto Schiavon, diretor de operações da Foxbit, explica que a empresa exige ainda comprovação de renda para transações acima de R$ 25 mil.

    Depois de aberta a conta na corretora, a compra e venda de Bitcoins é feita de forma parecida com as operações no mercado de ações: o usuário define o valor que quer pagar ou receber pela moeda, e espera uma contra-parte aceitar a oferta.

    As empresas que fazem a intermediação das transações cobram uma taxa, que varia de 0,3% a 0,7% do valor da operação.

    O lucro com a venda de Bitcoins acima de R$ 35 mil é tributado em 15% pela Receita Federal e precisa ser declarado no Imposto de Renda.

    DESREGULADO

    Além da forte oscilação, o bitcoin é considerado arriscado por não ser um ativo concreto e por não ter regulação própria.

    Nem o Banco Central e nem a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) deram passos nessa direção.

    Na Câmara, um projeto de lei para colocar moedas digitais sob supervisão do Banco Central está sob análise de uma comissão especial desde 2015 (leia mais ao lado).

    Enquanto isso, as corretoras de criptomoedas replicam, como estratégia de autorregulação, as exigências feitas a todo os participantes do setor financeiro, como a identificação de clientes.

    O objetivo é tentar reduzir o risco de a moeda digital ser usada em atividades ilícitas, como lavagem de dinheiro ou pagamentos relacionados a tráfico de drogas e armas, uma das principais críticas às criptomoedas ao redor do mundo.

    A falta de proteção ao pequeno investidor é questionada por especialistas.

    “Não é regulado e não tem nenhuma instituição financeira grande ou FGC (Fundo Garantidor de Créditos) por trás. É de extremo risco”, afirma João Paulo Oliveira, ana-lista-chefe de moedas criptografadas da XP Investimentos. Maior corretora do país, a XP diz ainda estar começando a olhar para esse mercado.

    Embate com governos leva risco a mercado
    DE SÃO PAULO

    O presidente do JP Morgan, Jamie Dimon, chamou o bitcoin de “fraude” e ameaçou demitir funcionários que comprassem o ativo.

    A declaração ocorreu após a moeda se desvalorizar quase 26% em uma semana, depois que uma das maiores Bolsas da China informou que suspenderia transações com a divisa, em meio a uma campanha repressiva do governo chinês contra criptomoedas.

    Esse mercado depende da China: o país responde por cerca de 23% das operações com Bitcoins e 70% da capacidade de geração de criptomoedas.

    No Brasil, moedas digitais não têm regulação. Na Câmara, uma comissão especial analisa um projeto de lei de 2015 do deputado Aureo (SD-RJ), que pede a inclusão das moedas virtuais nos “arranjos de pagamento” supervisionados pelo BC, assim como o ecossistema de cartões de crédito.

    Uma das preocupações citadas pelo deputado é que as moedas digitais sejam usadas em atividades ilícitas, por causa do anonimato dos usuários.

    Em julho deste ano, o russo Alexander Vinnik foi preso acusado de lavar com Bitcoins mais de US$ 4 bilhões associados a ataques hackers e tráfico de drogas. Na Bolívia e no Equador, transações com a moeda foram proibidas. (DB)

    Fonte: Folha de S.Paulo

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