BANCOS DIZEM QUE LIQUIDEZ JÁ ESTÁ ALTA E QUE
CRÉDITO NÃO CRESCE POR FALTA DE DEMANDA
Autor: ANA PAULA MACHADO ana.machado@sp.oglobo.com.br
Colaborou Marina Brandão
-SÃO PAULO E RIO- A redução do compulsório sobre depósitos à vista (de 45% para 40%) e a prazo (36% para 34%) dos bancos — anunciada anteontem pelo Banco Central — foi vista no mercado financeiro como uma sinalização da autoridade monetária para a redução do custo do crédito (Juros) no país. No entanto, a medida, que libera R$ 6,5 bilhões para empréstimos, não deve afetar imediatamente as altas taxas de Juroscobradas pelas bancos brasileiros. Além da queda no compulsório, argumentam as instituições, há outras variáveis que pesam sobre o spread (diferença entre o custo do dinheiro para o banco na captação e quanto ele cobra do consumidor).
— É uma medida que dará mais liquidez ao mercado, mas o sistema financeiro já está com uma liquidez alta. Hoje, as carteiras de crédito não crescem porque não há demanda. O que acontece com a redução do compulsório é que, à medida que o custo bancário cai e a inadimplência diminui, isso pode se traduzir, lá na frente, em redução das taxas de Juros. Mas isso não é imediato — diz o executivo de um grande banco, que não quis se identificar.
Segundo ele, a medida é favorável, mas nada garante que os recursos liberados sejam direcionados para o crédito:
— Se antes as instituições não recebiam nada pelos depósitos à vista, agora podem ter um ganho. Mas vai depender da estratégia de cada banco. Pode ser que uns optem por aplicar os recursos em Títulos públicos. Isso gera um benefício para os bancos.
BOLSA REAGIU POSITIVAMENTE
Para os analistas do setor, a liberação dos R$ 6,5 bilhões tem pouco efeito sobre a já elevada liquidez do setor. Em termos de volume de recursos, o montante liberado é quase insignificante — o estoque total de crédito no país gira em torno de R$ 3 trilhões.
— O principal efeito é o recado que o BC dá aos bancos, que vinham pedindo menos compulsório como condição para baixar os spreads. Então, é mais uma pressão da autoridade para que as instituições voltem a emprestar mais e com Juros menores — afirma João Augusto Salles, analista da Lopes Filho Consultores.
Thaís Zara, economista-chefe da Rosemberg Associados, também não vê impacto nos Juros:
— A redução do compulsório é uma medida que estava na agenda do BC, mas não deve ser um grande impulsionador do crédito no país.
Após o anúncio do BC, a Bolsa fechou em alta de 0,94%, a 73.367 pontos, impulsionada pelos bancos. Já o dólar foi negociado em queda pelo quarto dia consecutivo. A divisa fechou em baixa de 0,12%, cotada a R$ 3,294.
Fonte: O Globo