Reunião que começa hoje deve elevar taxa em 0,25 ponto percentual e marcar o fim dos aumentos sucessivos
Murillo Constantino
Liana Verdini
A reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), que começa hoje, deve anunciar amanhã o oitavo aumento consecutivo da taxa Selic. Dessa vez, o ritmo de alta deve ser de 0,25 ponto percentual, metade do que vinha subindo desde abril do ano passado. Com isso, o juro básico brasileiro passaria para 10,75% ao ano, retornando ao mesmo patamar de dezembro de 2010.
É no que apostam 34 dos 47 economistas consultados pela Reuters em relação ao resultado esperado para essa reunião de fevereiro. A divergência acontece quanto ao fim ou não desse ciclo de alta da taxa Selic agora em fevereiro.
“Houve uma importante mudança de cenário tanto aqui no Brasil quanto lá fora”, afirmou Paulo Gala, estrategista da Fator Corretora. Em relação ao ambiente externo, ele percebeu um arrefecimento da saída de capital dos países emergentes no mês corrente, quando comparado ao movimento observado em janeiro.
“Além disso, tivemos dois aspectos na economia brasileira que também devem pesar na decisão do Copom: a desaceleração da economia, captada por diversos indicadores já divulgados, e a definição da meta de superávit primário do governo”, destacou Gala. Tudo isso, em sua análise, justifica esse aumento da Selic, marcando o fim desse ciclo de alta dos juros.
O aumento de 0,25 ponto percentual é no que acreditam também a equipe de economistas do Itaú BBA e os analistas Bruno Ro-vai e Marcelo Salomon do Barclays. Mas para o Itaú, um outro aumento de 0,25 ponto percentual deve ocorrer na próxima reunião do Copom, em 1° e 2 de abril, levando a Selic para 11% ao ano. Somente então os juros interromperiam a trajetória de alta.
Entre a minoria que projeta um aumento mais agressivo da taxa agora está o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito. Ele aposta mesmo em uma alta de meio ponto percentual. “Acreditava nisso já há algum tempo e preferi não mudar. Não é por pirraça, apenas vejo que subir o juro no curto prazo em meio ponto percentual vai derrubar a curva futura mais fortemente. E isso é o
mais importante, já que é ela que define o custo do crédito na prática”, explicou.
Certo mesmo é que essa pausa nãodeve ser muitolonga. De acordo com o boletim Focus divulgado ontem pelo Banco Central, as expectativas dos economistas das instituições financeiras consultadas preveem que a Selic terminará o ano em 11,25% ao ano, o que significa mais aumento de meio ponto percentual em relação ao nível médio esperado para fevereiro, podendo até vir divido em duas parcelas de 0,25 ponto percentual.
“A grande questão agora é se o ciclo de alta se encerra ou não. Até abril, quando teremos a nova reunião do Copom, muitos indicadores serão divulgados e tendem a mostrar uma economia menos ativa”, disse Gala para justificar sua crença no fim das altas da Selic já em fevereiro. Ele cita o próprio Focus para respaldar sua análise: “No início do ano, os economistas previam um aumento de 2,2% do PIB brasileiro. Agora, a média já acredita que o crescimento da economia em 2014 será de 1,67%”. Essa projeção já refletiria produção industrial, venda ao consumidor e confiança de empresários e consumidores menos firmes.
Além disso, o real já não registra desvalorizações frente ao dólar tão intensas quanto em janeiro e o possível impacto da seca desse início de ano sobre o preço dos alimentos só deverá ocorrer no segundo semestre, deixando a inflação menos pressionada agora. “O impacto da política monetária se dá com meses de defasagem. Por isso o BC deve dar uma parada agora para sentir o efeito dos aumentos sucessivos dos juros na economia”, analisou Gala.
Seja como for, o mercado financeiro acredita que um novo ciclo de alta já está no horizonte e trabalha com uma previsão de Selic a 12% para 2015. “Esse ajuste será necessário para manter a inflação sob controle. Se ele virá no fim deste ano ou no início do próximo, isso só saberemos mais pra frente”, disse o estrategista da Fator.
Em abril de 2013, ataxa Selic estava em seu menor nível histórico, a 7,25% ao ano. Em dezembro, os juros básicos viraram o ano a 10%. Em janeiro, na primeira reunião de 2014, foielevado para 10,50%. Agora pode chegar a 10,75%. Com Reuters
Fonte: Brasil Econômico