Copom mantém Selic em 11% ao ano

    Por Eduardo Campos, Alex Ribeiro, Antônio Perez e José de Castro | De Brasília e São Paulo

    Molan, do Santander: BC deve aguardar impacto do estado da economia sobre inflação e vê desaceleração como parte de processo da própria ação de política monetária

    Em linha com o previsto pelo mercado e departamentos econômicos, o Comitê de política monetária (Copom) manteve a Selic em 11% ao ano. A decisão foi unânime e sem viés. No breve comunicado pós-reunião, o colegiado presidido por ALEXANDRE TOMBINI, excluiu a expressão “neste momento”.

    A mensagem do BC é: “Avaliando a evolução do cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic“.

    A retirada do “neste momento”, que é uma ferramenta utilizada para dar mais graus de liberdade ao BC, pode ser vista como um aceno de que o colegiado não promoverá novas alterações na taxa de juros em curto espaço de tempo, seja de alta ou de baixa.

    Para o economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, o Copom deu um mensagem clara de que pretende deixar a taxa básica de juros inalterada até o fim deste ano ao suprimir a expressão. “O Banco CENTRAL deixou claro que já encerrou suas atividades, indicando que a Selicficará estável nas duas reuniões que faltam neste ano”, diz Oliveira. Ele acredita que a ata do encontro, que será divulgada na quinta-feira da semana que vem, dia 11, não deve dar argumentos para especulação em torno de alteração da taxa básica neste ano. “Deve ser um documento similar ao anterior, com um tom bem equilibrado e pesos iguais para inflação e atividade”, diz.

    A retirada do termo “neste momento”, também pode sugerir que a autoridade monetária está menos “data dependent”, ou seja, guiando suas decisões de política monetária menos pelos dados correntes e mais pelas perspectivas para o médio e longo prazos, segundo o economista-chefe do Santander Brasil, Maurício Molan. Para ele, com o comunicado, o BC sinaliza que aguardará o impacto do estado da economia sobre a inflação e também que a desaceleração na demanda e do crescimento faz parte de um processo que, de certa forma, foi causado pela própria ação de política monetária.

    O economista do Santander avalia que, como não há sinais evidentes de uma tendência “baixista” para a inflação, o Banco CENTRAL se colocou numa posição de não ficar sujeito a uma estratégia de curto prazo.

    Outra avaliação possível é de que o BC quer evitar ruídos, pois a manutenção da expressão no encontro de julho levou o mercado a apostar em corte da Selic em função dos sinais de fraco desempenho da atividade. Esses ruídos levaram o BC a reforçar a mensagem de estabilidade das condições monetária por meios formais e informais de comunicação.

    No lado formal, a ata do encontro de julho, trouxe o que pode ser visto como o primeiro “forward guidance” da autoridade monetária brasileira. A ferramenta de comunicação de uso comum pelo Federal Reserve (Fed), Banco CENTRAL americano, é uma maneira de melhor coordenar as expectativas ao acenar da forma mais clara possível qual a tendência de curto e médio prazos da política monetária.

    Tal ação do BC ajudou a construir a posição unânime para a reunião deste mês ao apontar, na ata, que o comitê “antecipa cenário que contempla inflação resistente nos próximos trimestres, mas, que, mantidas as condições monetárias – isto é, levando-se em conta estratégia que não contempla redução do instrumento de política monetária – tende a entrar em trajetória de convergência para a meta nos trimestres finais do horizonte de projeção”.

    Pela avaliação do comitê sobre a inflação é possível esperar uma retirada do termo “resistente” na ata, já que em recentes apresentações, o presidente ALEXANDRE TOMBINI, e outros diretores, deixaram de qualificar a inflação dessa forma.

    O próximo encontro do Copom está previsto para 28 e 29 de outubro, quando já será conhecido o resultado das eleições presidenciais.

    No mercado futuro, a curva de juros futuros está negativamente inclinada – com taxas longas mais baixas que as curtas -, fenômeno raro, que mostra o mercado confiante em melhora de cenário, pois o lógico é o dinheiro custar mais quanto mais dilatado o prazo. Tal movimento, no entanto, está completamente descolado de qualquer aceno ou boa condução de expectativas por parte do colegiado presidido por TOMBINI. O fator eleições domina o mercado e com a expectativa de mudança no comando do país e da equipe econômica os investidores tentam garantir os prêmios mais elevados até então existentes.

    Com o vento a favor dos preços no atacado, a inflação ao consumidor recuou de forma acentuada na variação mês a mês, mas não se afasta do teto da meta de 6,5% quando medida em 12 meses. Mas esse quadro já dá os primeiros sinais de reversão, conforme as coletas diárias de preços voltam a mostra inflação, após semanas de deflação.

     

    Fonte: Valor Econômico

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