Economistas do mercado financeiro já movem suas expectativas em direção a quatro elevações na taxa de Juros nos EUA neste ano. É uma mudança importante, considerando que desde 2015, quando o Federal Reserve (Fed) fez seu primeiro aperto, as projeções de mercado sempre estiveram atrás das do BC americano. Em dezembro, última atualização das projeções da autoridade americana, o “dot plot” (gráfico de pontos) apontava mediana de três altas para a taxa referencial de juro neste ano.
Com a divulgação da ata da reunião do Fed de janeiro, os agentes souberam que o BC está mais confiante nas duas vertentes de seu mandato – meta de inflação e emprego. E a afirmação de que o núcleo do PCE – índice que o BC americano acompanha – “deve subir significativamente mais rápido em 2018” foi definitiva para isso.
A posse de Jerome Powell na presidência do Fed no começo de fevereiro e de novos participantes de viés “hawkish” (mais inclinados ao aperto) no Fomc é outro elemento de incerteza para os mercados nos próximos meses. Por ora, está amplamente precificado um próximo aumento dos Juros no encontro de março.
Gabriela Santos, economista de mercados globais do J.P. Morgan em Nova York, disse ao Valor que “entramos no ano entre três e quatro elevações [de juro], mas os dados recentes reforçaram a confiança de que serão quatro”. Para a economista, não só os últimos dados do mercado de trabalho (“payroll”), mas um “mosaico de fatores”, como a expansão fiscal, dá mais confiança ao banco na economia americana. “O debate que vemos com os investidores é menos se serão três ou quatro altas, mas sim o quanto mais teremos depois disso. Porque aí não é só uma retirada de liquidez, mas a adoção de uma postura restritiva de política monetária”, afirma.
O J.P. diz esperar que o Fed também suba quatro vezes os Juros em 2019. Sobre a recente turbulência do mercado, Gabriela diz que “agora os ‘yields’ [retornos] dos títulos de longo prazo estão subindo, mas o spread não deve avançar acima dos 70 pontos-base atuais entre os vencimentos de 2 e 10 anos”.
O UBS também projeta agora quatro altas de 0,25 ponto em 2018, e duas em 2019. “A combinação de um mercado de trabalho apertado e de estímulos fiscais em função da reforma tributária nos levaram a elevar a expectativa de crescimento”, diz Jorge Mariscal, diretor de investimentos de mercados emergentes da instituição. Para o executivo, a retirada de estímulos monetários ainda vai trazer mais volatilidade aos mercados e a disputa entre crescimento e inflação versus Juros é o que vai determinar o ritmo das oscilações. “Se o crescimento continuar forte, os mercados de ações serão capazes de digerir melhor as taxas de Jurosmaiores”, afirma.
A consultoria Capital Economics reforçou, após a ata, sua projeção de quatro apertos neste ano. “O recente acordo do Congresso para impulsionar os gastos discricionários militares e não militares significa que o mix geral de estímulo fiscal será significativamente maior nos próximos 18 meses do que foi assumido na reunião Fomc do último mês”, comenta. Isso justificaria a inclusão da palavra “mais” antes de “ajustes graduais” (dos Juros) no documento.
O Bank of America (BofA) afirma que o desemprego em mínimas históricas e o núcleo do PCE subindo acima da meta vão promover uma alta mais rápida dos Juros. O banco espera três altas em 2018 e três em 2019 – mas a perspectiva para este ano já está mais próxima de quatro, projeção semelhante à do Nomura.
Para o Nomura, em março o Fed deve rever para cima o número de altas esperadas (no “dot plot”), o crescimento e a inflação. “Esperamos que as estrelas continuem a se alinhar de tal forma que o Fomc aumentará as taxas quatro vezes este ano”, diz a equipe de economistas do banco nos EUA.
Para o BofA, a volatilidade nos mercados acionários reflete a “interpretação de que o Fed está mais disposto a ser dovish no curto prazo, deixar a inflação subir acima das expectativas do mercado no longo prazo e, eventualmente, ter de atuar mais agressivamente depois”.
Já o Julius Baer comenta que o novo Fomc (o comitê de política monetária) pode ser mais “hawkish” agora do que sob Janet Yellen devido à rotação anual dos quatro membros votantes dos bancos distritais: dois participantes “doves” de 2017 foram substituídos por dois “hawks” em 2018. Na ata da reunião de janeiro, diz Janwillem Acket, economista-chefe do banco, “uma insinuação” de um Fed mais hawkish poderia ser, o fato “que a despeito da visão da maioria de que a inflação subirá em 2018 e se estabilizará em torno de 2%, dois participantes estavam explicitamente preocupados com a perspectiva inflacionária”. O banco diz que uma “melhor inflação” provavelmente permitirá que o Fed acompanhe seu “gráfico de pontos” e realize três aumentos de taxas em 2018.
A expectativa do Credit Suisse é por quatro altas de Juros por conta de mais crescimento.
Fonte: VALOR ECONÔMICO