Por Sergio Lamucci e Juliano Basile | De Washington
A perspectiva de retomada do crescimento nos países avançados e a necessidade de os países emergentes se prepararem para o cenário de normalização da política monetária nos EUA dominaram as discussões na reunião de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e doBanco Mundial, realizada na semana passada. Um outro assunto, porém, ganhou força nos últimos dias – as críticas dos países do G-20 e do próprio FMI aos Estados Unidos, pela demora em aprovar a reforma de cotas da instituição, que aumenta o poder de voto dos emergentes e dobra a capacidade de financiamento do organismo para US$ 737 bilhões.
O G-20 e o Comitê Monetário e Financeiro Internacional (IMFC, em inglês), colegiado que define as diretrizes das políticas do FMI, realizaram uma reunião conjunta, e usaram uma linguagem quase idêntica em seus comunicados, ao pressionar os EUA a aprovarem a mudança. “Se as reformas de 2010 não forem ratificadas até o fim do ano, nós vamos solicitar ao FMI para avançar nos estudos existentes e desenvolver opções para os próximos passos, e vamos agendar uma discussão sobre as alternativas”.
Para ser implementada, a reforma necessita de 85% dos votos no Fundo. Como os EUA têm quase 17% de poder de voto no FMI, ela não caminha sem que senadores e deputados aprovem uma proposta nessa direção. Em março, o governo tentou incluir a medida no pacote de ajuda à Ucrânia, mas a oposição barrou a estratégia.
No sábado, a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, disse que a reforma das cotas da instituição precisa ser completada neste ano ou terá que ser ela mesmo reformada. “Esse é outro debate que nós vamos ter no começo de 2015 se, por algum motivo, a reforma de 2010 não tiver terminado”.
O secretário do Tesouro americano, Jacob Lew, também disse estar “profundamente decepcionado” com a não aprovação da reforma pelo Congresso. Ele reiterou o compromisso com a mudança, e acenou com a perspectiva de que ela pode ser aprovada até o fim do ano. Em ano de eleições para o Congresso, parece difícil.
Nos seus relatórios, o FMI destacou o cenário bastante positivo para os EUA, que devem crescer com mais força neste ano, puxados pelo setor privado. Na zona do euro, a variação do PIB enfim será positiva, mas há o risco de inflação muito baixa. Para os emergentes, o recado foi fortalecer os fundamentos e se preparar para um ambiente externo que poderá viver novos episódios de volatilidade.
Essa avaliação levou a algumas críticas os países em desenvolvimento. O presidente do Banco CENTRAL da Índia, Raghuram Rajan, pediu mais cooperação internacional na área de política monetária, instando os países desenvolvidos a dar mais atenção aos emergentes na definição de suas políticas. Num seminário, disse que o Panorama Econômico Mundial, do FMI, afirma que “os países desenvolvidos devem fazer o que tiverem de fazer”, enquanto aos emergentes cabe se ajustar a essa situação. Ex-economista-chefe do FMI, Rajan defendeu uma abordagem mais equilibrada. O ministro brasileiro da Fazenda, Guido Mantega, viu excesso de pessimismo do FMI nas previsões de crescimento para este ano, afirmando que o Fundo não notou a melhora ocorrida nos últimos dois meses, marcados por valorização do câmbio e das bolsas de países como o Brasil.
Fonte: Valor Econômico