Claudia Safatle
“Não está fácil para ninguém”, disse uma autoridade do governo ao mencionar as questões que estão no centro do debate econômico do país na pré – campanha eleitoral e na raiz da insatisfação popular: inflação alta e crescimento baixo. Nos próximos meses a inflação será mais moderada mas, ainda assim, deve superar o teto da meta de 6,5% às vésperas das eleições.
Mesmo o México que “fez tudo direitinho” e imaginava crescer 4% em 2013, colheu só 1% de expansão e luta pela recuperação este ano, citou. Na semana passada, para surpresa dos mercados, o Banco CENTRAL do México cortou 0,5 ponto percentual da taxa de juros. A economia mais brilhante hoje, os Estados Unidos, mostra crescimento mas os ventos da prosperidade não chegaram aos vizinhos Canadá e México. A Europa, ainda apática, entra em nova rodada de estímulos.
Nesse cenário de pouco crescimento no mundo pós crise, comparar o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) do governo Dilma Rousseff com o dos dois mandatos do seu antecessor, Lula, não é uma maneira correta de medir a taxa de sucesso de um sobre o outro, argumentam economistas qualificados do governo.
“Lula pegou dois ventos a favor: termos de troca fortemente positivos e alta taxa de desemprego”, ponderou a fonte.
Em 2002 o desemprego era de 12,6%. Dilma “pegou os últimos 3 anos de pancada” e um mercado de trabalho apertado.
Em seis dos oito anos da gestão Lula, o país foi beneficiado pela expansão nos termos de troca (relação entre os preços dos bens exportados e importados). Foi um período de “boom” das commodities que o Brasil exporta, o que contribuiu para o aumento da renda nacional e deu impulso ao crescimento. Apenas em 2003 e 2009 houve perda nos termos de troca (de 1,46% e 2,43%, respectivamente) que prejudicaram o país.
Coincidentemente a expansão do PIB foi baixa: crescimento de 1,2% em 2003 e retração de 0,3% em 2009 (ano da crise global).
Dos quatro anos do governo de Dilma Rousseff, os termos de troca só jogaram a favor do Brasil em 2011, quando houve um aumento de 7,88%. Desde então, as quedas são significativas.
Em 2010, último ano de Lula, o país cresceu 7,5% embalado por aumento de 15,92% nos termos de troca. “Mas naquele ano a China cresceu 11%, a Turquia cresceu 9%, a África do sul, 8%”, ponderou a fonte estabelecendo, assim, relação umbilical entre preços de commodities e crescimento do país.
Se as condições externas não andam generosas com o Brasil, as ações internas também não ajudaram muito. O governo de Dilma Rousseff não foi capaz de manter a elevada a confiança dos empresários e consumidores. Os índices de confiança estão em patamares muito baixos, comparáveis aos do ápice da crise global, em 2009.
Exceto nos Estados Unidos, a confiança nas demais economias também não anda lá uma maravilha, ressalta a autoridade, que nutre a esperança de que, transcorrida a Copa do Mundo sem traumas, a confiança no governo possa melhorar.
A inflação ficará mais comportada nos próximos meses, por razões sazonais e como efeito do aumento dos juros. A elevação de 3,75 pontos percentuais da taxa Selic primeiro esfriou a atividade e, agora, deverá reduzir o ímpeto da inflação que, de qualquer modo, será maior do que nos mesmos meses de 2013. Está em curso, também, uma correção de preços de energia. Acumulado em doze meses o IPCA deve estourar o teto da meta de 6,5% antes das eleições de outubro.
Espera-se, na área econômica , que a queda da inflação estimule um pouco o consumo das famílias, que teve retração no primeiro trimestre do ano. “O consumo recupera no segundo trimestre porque a renda e o emprego ainda crescem, o crédito cresce 13%, tem um pouquinho de efeito da Copa do Mundo e a inflação está em queda”, explicou a fonte.
O câmbio, com ligeira valorização, pode ajudar no controle dos preços. Aos primeiros ruídos sobre o fim do programa de “swap” cambial, cuja vigência encerrava no fim deste mês, o Banco CENTRAL disse que vai prorrogá-lo. Apesar de as medidas mais recentes – os “swaps” e isenção do IOF para operações de empréstimo externo com prazo superior a 180 dias – indicarem uma preferência pela valorização do real, uma fonte comenta: “O câmbio está ali Não ajuda nem atrapalha (no controle da inflação)”.
Nas contas do governo 2014 encerra com uma taxa de inflação ” mais próxima de 6% do que de 6,5%”. Se isso ocorrer, a inflação média dos quatro anos de Dilma, 6,11%, será menor do que os 6,43% do primeiro mandato de Lula. Ao contrário do mercado que vê sinais de recessão, acredita-se que a desaceleração não chegará a esse ponto. No segundo trimestre o PIB será “ligeiramente positivo” e não há, entre os técnicos oficiais, o temor de um aumento da taxa de desemprego que torne esse um problema visível antes das eleições.
A política fiscal mal ou bem já entrou no campo da neutralidade, segundo avaliação recente do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Enfim, se não há um espetáculo bonito de se ver o quadro também não é de terror. “Que tanta desorganização é essa que eu não estou vendo?”, indagou um ministro.
Dilma não teve o benefício do “boom” das commodities
Claudia Safatle é diretora adjunta de Redação e escreve às sextas-feiras E-mail claudia.safatle@valor.com.br
Fonte: Valor