Crise financeira global é novo risco no horizonte do BC

    Quando o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decidiu não subir a taxa de juros, há três semanas, não foi discutida em todas as dimensões a hipótese de uma crise financeira global. O que parecia estar no horizonte era uma deflação mundial.

    Tudo pode mudar de uma hora para outra nos mercados internacionais, mas hoje uma leitura que se ouve dentro da instituição é que, infelizmente, poderemos ter tanto uma crise como uma onda deflacionária.

    Para o Brasil, pode fazer uma grande diferença a natureza dos eventos que afetam os mercados. Uma onda deflacionária poderá, em tese, ajudar os esforços do BC para cumprir a meta em 2017. Uma crise financeira, dependendo de sua evolução, pode atuar na direção contrária.

    A queda da cotação do petróleo, segundo uma fonte ouvida pelo Valor, teria uma transmissão limitada para a economia brasileira, já que a situação financeira da Petrobras atrapalha a redução dos preços dos combustíveis no mercado interno.

    O melhor cenário para o Brasil seria uma desinflação global que levasse a políticas monetárias acomodatícias em economias avançadas, sobretudo os Estados Unidos. As indicações mais recentes da presidente do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA), Janet Yellen, são de que os juros não subirão mais como previsto.

    A política monetária acomodatícia nos Estados Unidos provavelmente derrubaria o dólar no mundo todo, inclusive no Brasil. Um real mais forte poderia, tudo mais evoluindo positivamente, contribuir para fortalecer o cenário de cumprimento do teto de inflação de 2016 e do centro da meta em 2017, que o BC reafirma que são seus únicos objetivos.

    Um dólar mais barato não está nas contas de ninguém, nem do próprio BC nem do mercado financeiro. Na ata do Copom, as projeções usam um dólar estável em R$ 4,00. O Top 5 de médio prazo, que reúne as projeções dos cinco analistas que mais acertam as suas previsões, aponta um dólar a R$ 4,41 em 2016 e de R$ 4,74 em 2017.

    Se a moeda americana cair bem abaixo dos R$ 4,00, devolvendo uma parte das alta do ano passado, o cenário de cumprimento da meta de inflação em 2017 tende a se fortalecer.

    O cenário de uma eventual crise financeira internacional poderia ser menos favorável, porque no limite impactaria a taxa de câmbio negativamente.

    Para a política monetária, o que conta é como esses fatores internacionais vão pesar no cenário inflacionário. O Copom colocou, em sua última reunião, a taxa de juros “on hold” e não estabeleceu um horizonte preciso de tempo para avaliar o quanto o quadro internacional afeta a inflação dentro do Brasil.

    Hoje, já existe o diagnóstico dentro do BC de que, dada a enorme importância desses eventos globais, a realidade é que ter aumentado ou não a Selic em janeiro não mudaria muito o comportamento dos mercados – salvo expectativas um pouco menos desancoradas.

    O BC segue avaliando como as incertezas no cenário internacional, que se aprofundaram nos últimos dias, afetarão o balanço de riscos para a inflação e, sobretudo, o quanto poderá contribuir para fortalecer a trajetória de cumprimento da meta de inflação, de 4,5%, em 2017.

     

    Fonte: Valor Econômico

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