Para o senador Aécio Neves, despesa de R$ 71 mil feita pela presidente e comitiva em uma única noite em Lisboa é “péssimo exemplo”
Juliana Ferreira
Amanda Almeida
O senador e pré-candidato ao Palácio do Planalto Aécio Neves (PSDB-MG) condenou os gastos feitos pela presidente Dilma Rousseff em Portugal na volta do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. A caminho de Cuba, a comitiva da presidente parou em Lisboa, onde ocupou 45 quartos em dois dos mais caros hotéis da cidade: o Ritz e o Tívoli. A estadia, que não fazia parte da agenda oficial, custou R$ 71 mil. Somente a diária do quarto de luxo em que Dilma se hospedou é de R$ 26 mil. “Infelizmente, é mais um péssimo exemplo. O PT sempre teve dificuldade de separar o que é público do que é pessoal e partidário. A história se repete. A presidente ter escolhido ficar numa suíte cuja diária custa mais de 30 salários mínimos agride o país e ofende os brasileiros”, afirmou o tucano.
A postura da presidente já havia sido vista com maus olhos pelo partido, presidido por Aécio, na Câmara dos Deputados. O líder da sigla na Casa, Carlos Sampaio (SP), afirmou que a petista “passeou” com dinheiro público: “É uma gastança desnecessária, que não condiz com a situação econômica do nosso país e muito menos com as dificuldades com as quais os brasileiros são obrigados a conviver todos os dias, como inflação alta e serviços públicos precários, problemas que Dilma não consegue resolver”.
Por uma rede social, o líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes (SP), ironizou a escala. “Dilma Rousseff, presidente da República, teve noite de rainha do Sabá na escala milionária em Lisboa”, disse, em referência à história da soberana que viveu no século 6 antes de Cristo e teria levado seis meses em viagem entre Sabá e Jerusalém, distantes 2 mil quilômetros. Dilma manteve a viagem em sigilo até ser flagrada entrando no hotel. Na noite de sábado, saiu para jantar no luxuoso restaurante Eleven, que tem vista privilegiada para o Rio Tejo.
Ontem, o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, disse que todos os integrantes da comitiva presidencial que fizeram “escala técnica obrigatória” em Lisboa no sábado pagaram a conta do restaurante com recursos próprios. Ele reiterou nota em que a Presidência alegou que a parada em Lisboa não foi “desnecessária”. “A escala técnica era obrigatória. Dependendo de condições climáticas, o Airbus 319 presidencial tem autonomia média em torno de 9 horas e 45 minutos, tempo insuficiente para um voo direto entre Zurique e Havana. A opção por Lisboa foi a mais adequada, já que se trata do aeroporto mais a oeste no continente europeu com possibilidades de escala técnica”, registrou o Planalto, acrescentando que Dilma chegou às 17h30 a Lisboa, pernoitou e seguiu viagem na manhã seguinte.
Mesmo com a justificativa, o PPS pediu à Procuradoria-Geral da República (PGR) a abertura de um inquérito para apurar a escala. Na representação, o líder do partido na Câmara, Rubens Buenos (PR), diz que Dilma pode ter cometido um crime. “Trata-se de despesa desnecessária e divorciada do interesse público, o que poderia caracterizar, pelo menos em tese, ato de improbidade administrativa, por ofensa aos princípios da legalidade e da moralidade”, afirmou. O líder do DEM na Câmara, Ronaldo Caiado (GO), também cobra explicações. “Dilma vai a Lisboa, torra o dinheiro público sem qualquer agenda marcada, come do bom e do melhor, posa de celebridade e fica por isso mesmo. E o brasileiro paga a conta. A presidente tem que se explicar”, disse.
Cuba
O destino final da viagem também rendeu críticas à presidente, que participou ontem da inauguração da primeira etapa do Porto de Mariel, a 45 quilômetros de Havana, em Cuba. Aposta do país comunista para uma guinada na economia, o porto custou US$ 957 milhões, dos quais US$ 682 milhões foram financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O PSDB anunciou ontem que vai pedir esclarecimentos ao ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, sobre o acordo com o governo cubano. “Desde o início, toda essa operação do BNDES está cercada de sigilo de Estado, decretado por ordem do ministro. O que o governo federal está escondendo? Há empresas amigas que estão sendo beneficiadas e a nação não pode saber?”, questionou o deputado federal Marcus Pestana (PSDB-MG), em nota. Ele espera que Pimentel explique as razões do sigilo e os detalhes da operação.
“É uma gastança desnecessária, que não condiz com a situação econômica do nosso país e muito menos com as dificuldades com as quais os brasileiros são obrigados a conviver todos os dias, como inflação alta e serviços públicos precários”
Carlos Sampaio, líder do PSDB na Câmara.
Fonte: Correio Braziliense