Declarações de dirigentes do BC aquecem apostas em corte da Selic

    A percepção de que há uma mudança nos discursos dos dirigentes do Banco Central animou o mercado de Juros futuros. Faltando duas semanas para a próxima reunião do Copom, o mercado amplia as apostas em uma nova queda da taxa básica Selic. Um dos argumentos para esse movimento foi a declaração do próprio presidente da autoridade monetária, Ilan Goldfajn, que admitiu que a inflação recente voltou a surpreender com taxas mais baixas do que o esperado.

    Inicialmente apontado como cenário alternativo, o corte adicional de 0,25 ponto percentual da Selic neste mês conta agora com 84% de chances, apontam os contratos futuros. Na sessão anterior, essas projeções contemplavam probabilidade de 67% para o corte. Ao mesmo tempo, investidores reforçaram a aposta de que a Selic deve permanecer baixa por algum tempo e, desta vez, praticamente zeraram o prêmio de risco sobre uma possível alta neste ano.

    O movimento foi percebido nas taxas curtas e intermediárias nos contratos negociados na B3. A taxa projetada pelo contrato de DI para janeiro de 2019 estava em 6,465% no fim da sessão regular, cerca de 5 pontos-base abaixo do ajuste anterior. Já o DI para janeiro de 2020 caiu para 7,400%, de 7,470%.

    Ontem o presidente do BC reconheceu que o comportamento recente da inflação e das expectativas surpreendeu a todos. “As últimas taxas vieram mais baixas do que estávamos esperando. A inflação continua baixa e favorável”, disse em entrevista à “CBN”.

    O discurso de Ilan ganha peso no atual cenário, uma vez que alguns sinais de mudança de tom já vinham sendo notados. Em encontro com economistas na semana passada, o diretor de política econômica, Carlos Viana de Carvalho, reiterou a mensagem de que, em caso de surpresa nos modelos do BC, o caminho da Selic seria de baixa, conforme relato de um dos participantes do evento.

    “O BC está inclusive alinhando o discurso para que [o corte] não seja uma surpresa”, diz o estrategista de renda fixa da Renascença, Pedro Barbosa. Para o estrategista, é uma mudança em relação ao cenário traçado na última reunião, quando o BC indicou que seria mais adequado a interrupção do ciclo de flexibilização monetária.

    A surpresa agora relatada do Banco Central com a trajetória da inflação anima os investidores, que já antecipavam nova rodada de números favoráveis dos índices de preços para esta semana. Os números do IPCA de fevereiro serão divulgados na sexta-feira, sob expectativa de algumas grandes instituições que fique perto de 0,34%.

    “Por mais que o mercado já enxergasse condições para mais uma queda de Juros, faltava uma entrevista que corroborasse essa visão”, afirma Matheus Gallina, da Quantitas.

    A visão positiva também perpassa o mercado de Câmbio. Depois de chegar a subir no começo do pregão de ontem, o dólar comercial perdeu força ao longo da tarde e fechou praticamente estável, com variação negativa de 0,05%, cotado a R$ 3,2479.

    A sensação de que uma temida guerra comercial, gerada pelas ações do presidente americano, Donald Trump, pode não passar de ameaça deu suporte ao mercado e ajudou a manter medidas de volatilidade cambial em patamares baixos para padrões históricos. Isso demonstra que investidores não esperam grandes oscilações no mercado de moedas nas próximas semanas. Contudo, o baixo nível de volatilidade deixa os preços mais suscetíveis a reversões, a exemplo do que aconteceu nos mercados acionários em Nova York um mês atrás.

    Por ora, as apostas seguem favoráveis à classe de moedas emergentes, e o real figura entre os destaques. Gestores de fundos de investimento estão “comprados” em reais (apostando na alta da moeda brasileira) acima da média do mercado, considerando tanto posições em bônus quanto em Câmbio, dizem estrategistas do Morgan Stanley em nota a clientes. (Colaborou José de Castro)

    Fonte: VALOR ECONÔMICO

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