O deficit em transações correntes do Brasil chegou a US$ 89,9 bilhões em 12 meses fechados em fevereiro, o equivalente a 4,22% do Produto Interno Bruto (PIB). Apesar de representar uma queda em relação ao fechamento de 2014, quando o rombo foi de US$ 91,3 bilhões, o comprometimento do PIB aumentou de 4,19% para 4,22%. Para os especialistas, é possível que a relação conta corrente/PIB se deteriore ainda mais, chegando a 5% este ano. Já a estimativa do BC é de fechar 2015 em 4,23%. Se confirmado, será o pior resultado desde 1999.
O motivo do comprometimento maior do Produto Interno Bruto é que a produção de riquezas do país está menor em dólares por conta da desvalorização do real. “Em percentual do PIB há uma deterioração sensível”, admitiu Fernando Rocha, chefe adjunto do Departamento Econômico do BC. Por outro lado, a alta da moeda norte-americana dá mais competitividade às exportações brasileiras porque torna os produtos nacionais mais baratos e atrativos no exterior. Esse movimento fez o Banco CENTRAL (BC) revisar a perspectiva para as transações correntes este ano. “Em dezembro, nossa projeção era de deficit de US$ 83,5 bilhões e reduzimos para US$ 80,5 bilhões”, explicou Rocha.
A autoridade monetária também revisou o deficit de US$ 6 bilhões da balança comercial para um superavit de US$ 4 bilhões no fechamento de 2015, apostando na queda das importações e aumento das exportações em função da desvalorização cambial. Contudo, há uma demora para que a resposta da alta do dólar seja sentida na balança comercial, ressaltou o professor da PUC-SP e consultor Antonio Corrêa de Lacerda. “Isso envolve decisões como substituir importações por produção doméstica. Do lado das exportações, o comércio mundial ainda está fraco”, avaliou o consultor, para quem a vulnerabilidade do país continua elevada pela grande dependência do exterior.
De fato, conforme os dados do BC, a necessidade de financiamento externo é alta, de quase US$ 30 bilhões. Isso porque os investimentos estrangeiros diretos (IED) somaram US$ 60 bilhões em 12 meses fechados em fevereiro ante deficit nas transações correntes de US$ 89,9 bilhões. “As principais contas apresentam um enfraquecimento importante, com destaque para as remessas de lucros e dividendos e as despesas em viagens internacionais, que apresentaram quedas de 43,5% e 26,7% frente a fevereiro de 2014”, assinalou o economista da Tendências Consultoria, Bruno Lavieri. Em fevereiro, o IED somou US$ 2,8 bilhões, queda de 30% em relação ao mesmo mês de 2014.
Para Lavieri, ainda que seja esperada uma redução no deficit em conta-corrente em dólares frente a 2014, motivada pelo arrefecimento do consumo doméstico e pela depreciação do câmbio, a razão entre o deficit e o PIB deverá se elevar ainda mais em 2015. “O nível de 4,2% deve chegar a 5% este ano”, estimou. Para 2016, contudo, o especialista projetou que o efeito do novo patamar cambial será mais intenso, levando a um aumento de exportações e redução da relação conta corrente/PIB para 4,7%.
Sem investimentos estrangeiros diretos suficientes para cobrir o rombo das transações correntes, o país fica dependente do capital volátil. Aquele investimento estrangeiro em carteira, aplicado em ações e renda fixa e que pode deixar o país a qualquer momento. Conforme o BC, no primeiro bimestre de 2015 o montante investido em carteira chegou a US$ 11,8 bilhões ante US$ 4,8 bilhões em janeiro e fevereiro de 2014. “A renda fixa se tornou bastante atrativa. É o dinheiro que vem atrás do juro alto do Brasil”, explicou Carlos Eduardo de Freitas, presidente do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon-DF).
Rombo crescente
Saldo negativo das contas externas atinge 4,22% do PIB em fevereiro
Evolução do deficit
Resultados deixam o país mais vulnerável a crises
Período Em 12 meses (US$ bilhões) Em % do PIB
Dez/10 -47,3 2,20
Dez/11 -52,5 2,12
Dez/12 -54,2 2,41
Dez/13 -81,2 3,62
Dez/14 -91,3 4,19
Jan/15 – 90,4 4,20
Fev/15 -89,9 4,22
Investimento direto
Volume de recursos não é mais suficiente para cobrir deficit
Período Em 12 meses (US$ bilhões) Em % do PIB
Dez/10 48,5 2,26
Dez/11 66,6 2,69
Dez/12 65,3 2,90
Dez/13 64,0 2,85
Dez/14 62,5 2,87
Jan/15 61,3 2,85
Fev/15 60,0 2,82
Fonte: Banco CENTRAL
Fonte: Correio Braziliense