O plenário do Senado cassou, na noite de ontem, por 74 votos a zero, o mandato do senador Delcídio do Amaral, ex-líder na Casa do governo Dilma Rousseff, que havia sido preso na Operação Lava-Jato por tentativa de obstrução da Justiça. Setenta e seis parlamentares compareceram à sessão. O senador João Alberto (PMDB-MA) se absteve. O presidente do Senado, Renan Calheiros, não votou.
Apenas cinco senadores não participaram da votação: Rose de Freitas (PMDB-ES), Eduardo Braga (PMDB-AM), Jader Barbalho (PMDB-PA), Maria do Carmo Alves (DEM-SE) e o próprio Delcídio. Durante a sessão, o primeiro a falar foi o senador Telmário Mota (PDT-RO), relator do caso no Conselho de Ética. Ele destacou que não restavam dúvidas de que Delcídio integrou uma organização criminosa e tentou obstruir a Justiça. O relator disse ainda que Delcídio teve garantido seu amplo direito de defesa durante todo o processo e avaliou que o colega não tem mais condições “éticas e morais” de continuar no Senado.
O advogado do ex-petista não compareceu à sessão. O presidente Renan Calheiros nomeou um servidor da casa para ler a defesa do representado.
Ex-tucano e ex-dirigente da Petrobras, Delcídio foi flagrado numa gravação oferecendo auxílio financeiro para a família do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, interferência junto a ministros do STF para livrá-lo da cadeia e uma rota de fuga que contava com um jato para levá-lo do Paraguai até a Espanha. A gravação foi feita pelo filho de Cerveró, Bernardo Cerveró, e mostra uma reunião entre ele, o senador, o chefe de gabinete de Delcídio, Diogo Ferreira, e o advogado Edson Ribeiro no Hotel Royal Tulip, em 4 de novembro, o mesmo que seria palco das prisões nesta semana.
Mesada
Na conversa, Delcídio se compromete a pagar R$ 50 mil mensais para a família de Cerveró, com a ajuda financeira de André Esteves, dono dobanco BTG Pactual, também preso ontem na Lava-Jato, influir nas decisões de tribunais superiores para tentar soltá-lo da prisão e, ainda, a montar um plano de fuga para o exterior assim que for solto. “Esse é o compromisso que foi assumido, né? E nós vamos honrar”, disse o senador em um dos diálogos que confirmam a rota de fuga. O senador ainda lê trechos da delação premiada de Cerveró, mencionando Dilma Rousseff. Para os investigadores, houve ameaça à condução da apuração e vazamento de informações sigilosas.
Delcídio foi preso em novembro do ano passado. Poucos dias depois da prisão do ex-petista, o Senado abriu processo para a cassação do mandato por quebra de decoro parlamentar. O político alega que agiu por ordem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Delcídio passou 87 dias preso. O Instituto Lula nega as acusações.
Histórico
Delcídio é o terceiro senador da história a ser cassado por colegas em plenário. Em 2012, o então senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) acabou perdendo o mandato após denúncias de ser o braço político do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Antes dele, Luiz Estevão, que se encontra preso, havia sido cassado. Ele foi expulso do Senado em 28 de junho de 2000, após denúncias de participar de um esquema de desvio de dinheiro público que deveria ter sido destinado à construção do prédio do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de São Paulo.
Fonte: Correio Braziliense