Presidente exige explicações sobre a revisão do PIB de 2012 que a levou a um vexame internacional e expôs o IBGE
VICTOR MARTINS
Depois de passar por um vexame internacional, ao ser desmentida ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a presidente Dilma Rousseff cobrou, por telefone, explicações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, por tê-la induzido ao erro.
Na semana passada, em entrevista ao jornal El País, a presidente disse que o crescimento brasileiro em 2012 seria revisto de 0,9% para 1,5%, indicando que teria acessado, de forma privilegiada, dados sigilosos do IBGE. Para desfazer o mal-estar, e não afetar a credibilidade do instituto, o Palácio do Planalto tratou de difundar a versão de que Dilma havia citado estudos preliminares da Fazenda.
Pois a revisão feita pelo IBGE mostrou que, além de expor indevidamente o órgão de estatística, Dilma não pode confiar em Mantega, já que a equipe dele não consegue acertar um dado sequer da economia. Na verdade, o PIB de 2012 cresceu 1% e não 0,9%, uma mudança que não impedirá ao atual governo de entregar a menor média de crescimento anual da economia dos últimos 20 anos.
Os ruídos provocados por Dilma, induzida pelos erros da Fazenda, ampliaram as desconfianças do mercado em relação ao governo. E, ontem, depois da divulgação da queda do PIB do terceiro trimestre, de 0,5%, muitos reduziram as previsões para a economia neste ano e em 2014.
Rebaixamento
Na visão dos analistas, a expansão do PIB neste ano deve ficar entre 2% e 2,2%. Para 2014, o resultado pode ser ainda pior, ao redor de 1,7%. Segundo as instituições financeiras, os números ruins também jogam mais gasolina no debate sobre o rebaixamento da nota soberana brasileira pelas agências de classificação de risco. “O PIB de 2012 frustra a fala da presidente. Não sei por que ela embarcou nessa furada”, observou Tony Volpon, diretor executivo e chefe de Pesquisas para Mercados Emergentes das Américas da Nomura Securities.
Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, disse que o Brasil caiu na armadilha do baixo crescimento com inflação alta. “O descontrole dos preços é um limitador para nosso desenvolvimento. A desordem fiscal, com o aumento de gastos que não elevam a competitividade nem o potencial de crescimento, deixa o país nesse quadro de estagnação”, argumentou.
Diante desse cenário, a herança estatística que 2013 deixará para o próximo ano — chamada de carry over — caiu de 1% para algo entre 0,5% e 0,6%. “Minha previsão para 2013 é de um avanço do PIB ao redor de 2,26%”, calculou Eduardo Velho, economista-chefe da Invx Global Partners.
Fonte: Correio Braziliense