Dilma define nomes para eventual 2º mandato

    Por Claudia Safatle | De Brasília

    Dois nomes do novo ministério de Dilma Rousseff – Aloizio Mercadante, para a Casa Civil, e o empresário Josué Gomes da Silva, para o Desenvolvimento – foram concebidos para continuar em um eventual segundo mandato da presidente da República e dão uma indicação do que a presidente já quer mudar.

    Ambos retratam transformações básicas na gestão do governo. Primeiro, a presidente pretende delegar para Mercadante a parte operacional da administração, deixando de se envolver pessoalmente nas discussões de medidas e soluções. Josué seria a sua aproximação com o setor privado, sobretudo com a indústria. Assim, Dilma equacionaria dois dos problemas que afetaram os três primeiros anos de gestão: a excessiva centralização das decisões nas mãos da presidente; e a falta de interlocução com os empresários.

    Mercadante foi confirmado como chefe da Casa Civil na segunda feira. Josué, da Coteminas e filho de José Alencar, vice-presidente de Lula, ainda não foi confirmado como sucessor de Fernando Pimentel na pasta do Desenvolvimento. O Palácio do Planalto, que cogita do nome de Josué para ministro desde novembro de 2013, estranha muito a ausência de manifestação de apoio da indústria ao nome do empresário, dizem fontes oficiais.

    “Cadê o Gerdau? Cadê o Robson Andrade? Eles têm que querer!”, comentou um assessor, citando os nomes dos empresários Jorge Gerdau e do presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) como exemplos de pessoas que poderiam ter dado declarações públicas de apoio a Josué, que filiou-se no ano passado ao PMDB e desde então colocou seu nome disponível para colaborar com o governo. “O silêncio dos empresários é retumbante!”, realçou a fonte.

    Dilma tem ajustado seu discurso e feito gestos de aproximação com o setor privado. Ela quer, segundo fontes oficiais, desmanchar os mal entendidos que a fizeram parecer hostil aos investimentos e aos lucros das empresas privadas.

    A presidente percebeu que há uma enorme distância entre o que os empresários falam para a imprensa e o que dizem a ela em conversas pessoais. Em geral os encontros com a presidente são bem mais amenos do que as entrevistas que dão à mídia. “Eles não dizem a ela o que pensam”, observou um colaborador.

    Se for confirmado como ministro, mesmo sem ter os instrumentos de política econômica à cargo do Ministério da Fazenda e do Banco Central, o empresário da Coteminas será “ouvido” pela presidente sobre todos os assuntos importantes e transmitirá ao Palácio do Planalto as exatas impressões de seus pares.

    Na Presidência da República, assessores referem-se a Josué como sendo um provável “Henrique Meirelles da Dilma”. Meirelles, presidente do Banco Central no governo Lula, é um executivo e manteve interlocução com o setor privado nos oito anos que esteve no comando da autoridade monetária. Falava com os representantes do sistema financeiro e atendia, também, a praticamente todos os convites de associações industriais e comerciais para participar de palestras e debates. A todas as plateias sua missão era transmitir confiança e previsibilidade. Josué teria função semelhante no governo Dilma.

    Mercadante na Casa Civil representa uma mudança importante no estilo gerencial da presidente. Conhecida por centralizar não só as decisões relevantes mas a própria gestão operacional do governo, Dilma teria percebido, segundo assessores, que não deve imiscuir-se na construção de soluções para eventuais problemas. A ela cabe receber propostas de soluções vindas dos seus respectivos ministros e decidir, arbitrar.

    O novo chefe da Casa Civil terá “ascendência” sobre os demais ministros e, com sua longa experiência parlamentar, funcionará como “um escudo político da presidente”, resumiu uma fonte. Mercadante vai comandar um ministério com maior peso do que ele tem hoje. Sobre seu raio de influência na política econômica, o que se diz no Palácio do Planalto é que ele poderá debater para dentro do governo, nas reuniões internas, mas não estaria autorizado a manifestar-se publicamente sobre tais assuntos.

     

    Fonte: Valor Econômico

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