Fernando Taquari e Bruno Peres
Em uma prévia da disputa eleitoral de 2014, a presidente Dilma Rousseff demonstrou ontem que não pretende deixar sem resposta críticas à condução da política econômica. Para uma plateia formada por empresários mineiros, a petista ressaltou o cuidado do governo com a solidez macroeconômica, em clara referência ao tripé da economia brasileira, baseado na adoção de metas de inflação, câmbio flutuante e política fiscal geradora de superávits primários. As declarações da presidente podem ser vistas como um recado para ex-senadora Marina Silva (PSB), que em apresentação a clientes do banco Credit Suisse na semana passada, disse, conforme revelou o Valor, que o tripé estava comprometido e era preciso restaurá-lo.
Em discurso de inauguração da fábrica da Balteau S/A, em Itajubá, Minas Gerais, Dilma reafirmou o compromisso do governo em combater o aumento dos preços. A inflação, garantiu, vai encerrar 2013 pelo décimo ano consecutivo dentro da meta, cujo teto para este ano está em 6,5%. Já o centro da meta, que é o patamar perseguido pelo governo, é de 4,5%. “Nosso compromisso com o rigor fiscal não se alterou, como mostra o fato de termos transitado pela mais grave crise da história desde 1929 com nossas metas de endividamento sob rígido controle”, disse Dilma, citando dados que apontam para o equilíbrio das finanças, como o aumento das reservas internacionais para US$ 376 bilhões e a condição da dívida líquida do setor público em relação ao PIB ser hoje uma das menores do mundo.
“Defendemos e praticamos a política de flexibilidade cambial, o que tem nos permitido fazer face a esse novo momento em que o mundo transita para uma modificação das políticas monetárias, notadamente da política monetária americana”, disse. A presidente procurou mostrar aos empresários que a economia brasileira conta com bases sólidas para a ampliação dos investimentos. “Empresas como a Balteau, que produzem equipamentos para o setor de energia, dispõem hoje de bases objetivas para projetar sua demanda porque nós retomamos o planejamento da expansão da oferta de energia no Brasil. Nada melhor para uma indústria do que dispor de 10 ou 20 anos para suas necessidades de investimentos no setor”.
Durante a passagem por Minas Gerais, Dilma cumpriu o ritual de falara para emissoras de rádio locais. Questionada sobre as pesquisas que a apontam como favorita na disputa presidencial, a petista disse que está preocupada apenas em governar até o fim do mandato. Para justificar a indiferença com a eleição, observou que nem a oposição definiu quem será candidato em 2014. “Respeito todas as pessoas que pleiteiam, acho todos os pleitos extremamente legítimos. Agora, o meu problema é governar, não é ficar preocupada com quem vai ser candidato. Até porque há indefinições”. A declaração sinaliza que a presidente não descarta a possibilidade de enfrentar o ex-governador José Serra pelo PSDB e Marina Silva pelo PSB.
Atualmente, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), são os nomes mais cotados para concorrer ao Planalto. Os dois partidos, no entanto, emitem sinais de que podem trocá-los por Serra e Marina caso Aécio e Campos não decolem nas pesquisas. Dilma, cujo marqueteiro de campanha João Santana disse que os adversários do PT são “anões antropofágicos”, negou estar em situação superior aos demais. “Apesar de respeitar, de achar que ninguém pode subir no salto alto, o meu problema não é salto alto. É o seguinte: não dá para fazer as duas coisas simultaneamente.”.
“Acredito que as pessoas que querem concorrer ao cargo têm de se preparar, estudar muito, ver quais são os problemas do Brasil. Eu passo o dia inteiro fazendo o quê? Governando”, reforçou…. Agora, eu respeito todos os contendores, todas as pessoas que pleiteiam, acho todos os pleitos extremamente legítimos. A presidente visitou mais vezes o Estado neste semestre do que em todo o ano passado. De janeiro de 2012 até agosto de 2013, foram quatro viagens. Por outro lado, nos últimos dois meses, ela passou por Varginha, Uberlândia, São João Del Rey, Belo Horizonte e agora Itajubá. Com a ofensiva, o Planalto espera neutralizar a hegemonia da oposição no Estado, o segundo maior colégio eleitoral do país.
Fonte: Valor Econômico