Dilma e Aécio no jogo aberto do 2° turno

    Com arrancada na reta final e resultado melhor do que o apontado nas pesquisas, tucano recebe quase 35 milhões de votos e vai enfrentar a presidente, que teve o apoio de 43 milhões de eleitores

    Nove milhões de votos de diferença entre um e outro, 10 minutos de tempo de televisão para cada um – que se iniciam a partir de quinta-feira – e três semanas de campanha para definir quem será o presidente da República a partir de 1º de janeiro de 2015. Após um primeiro turno eletrizante, com uma reviravolta espetacular na reta final, Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) iniciam a segunda etapa das eleições presidenciais, repetindo a velha polarização entre tucanos e petistas. Marina Silva, que empunhou a bandeira da nova política e conclamou os eleitores a não desistir do Brasil, viu parte dos seus seguidores desistirem de sua candidatura. Derreteu aos poucos e amargou a terceira colocação com 21,3% dos votos válidos. Dilma terminou o primeiro turno à frente, com pouco mais de 43 milhões de votos (41,5% do total). Aécio Neves (PSDB), que parecia não ter chances, chega com fôlego redobrado. Recebeu quase 35 milhões de votos (33,5%).

     

    A disputa, contudo, começa mais apertada do que se supunha nas pesquisas de boca de urna e nos últimos levantamentos divulgados ao longo da semana passada. Embora a tendência de êxito do senador mineiro já estivesse se consolidando nos últimos dias, os quase 35 milhões de votos (33,5%) recebidos por ele são maiores do que os 26% ou 27% apontados por todos os institutos de pesquisa.

     

    Ainda na noite de ontem, os dois candidatos, nos discursos de agradecimento, deram o tom do embate que se desenha. “Não vamos descansar um minuto. Vamos viajar o Brasil acompanhados da verdade, da coragem. Estamos apenas na metade do caminho”, declarou Aécio Neves, em Minas Gerais. “A luta continua. E essa é uma luta daqueles que querem um país mais justo”, afirmou Dilma, em Brasília.

     

    Para tentar seduzir o eleitorado do PSB e os aliados de Marina Silva – terceira colocada na eleição -, Aécio fez questão de homenagear Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo em 13 de agosto. Acrescentou que tem um carinho muito grande por Renata Campos, viúva do ex-governador de Pernambuco. Mas assegurou que não conversou ainda nem com ela nem com Marina. “Vamos aguardar os próximos dias para ver como as coisas evoluem. O que posso dizer é que quem venceu as eleições neste primeiro turno foi o desejo de mudanças da sociedade brasileira”, afirmou.

     

    O presidenciável tucano anunciou que hoje mesmo se reunirá com a equipe de campanha, em São Paulo, para definir os próximos passos. Afirmou que está cercado dos melhores quadros para promover as mudanças de que o povo brasileiro necessita e cobra. “Não farei campanha contra ninguém, porque não sou daqueles que acham que meus adversários são inimigos e precisam ser exterminados a qualquer custo. Farei uma campanha a favor do Brasil”, disse ele.

     

    Os estrategistas da campanha do PSDB lembram que ele foi melhor em todos os estados se comparado aos resultados divulgados pelas pesquisas. “Agora teremos o mesmo tempo de televisão (10 minutos cada) e um minuto de inserções diárias”, declarou um aliado. A estratégia é manter o mesmo discurso que levou Aécio para o segundo turno: ênfase na ética para explorar a crise da Petrobras; os maus resultados da economia e a aposta no desejo de mudança do eleitorado brasileiro.

     

    FMI e pré-sal

    Em Brasília, a presidente Dilma Rousseff reuniu os ministros para acompanhar a apuração no Palácio da Alvorada. À noite, durante entrevista em um dos principais hotéis da cidade, destacou que essa foi a sétima vitória consecutiva do PT nas disputas presidenciais: os dois turnos de 2002, 2006 e 2010 e o primeiro turno deste ano. “A luta daqui para frente será daqueles que não querem ver o Brasil voltar atrás”, convocou.

     

    Dilma admitiu que o espírito é de mudanças, baseado nas conquistas obtidas pela população até o momento. Mas acrescentou que o seu projeto político é o mais habilitado para realizar essas mudanças. “Eu sou a primeira pessoa a querer fazer mais. É a certeza de quem soube fazer”, afirmou.

     

    A presidente enumerou uma série de propostas que pretende implementar caso seja reeleita para mais quatro anos, como mais atenção à saúde, a utilização dos recursos do pré-sal para a educação e um combate empedernido contra a corrupção. “Na economia, faremos as mudanças necessárias sem promover os ajustes e o arrocho salarial que foram características do governo do PSDB”, comparou. “Não queremos de volta os fantasmas do passado. Não queremos de volta aqueles que quebraram o Brasil três vezes, que se ajoelharam diante do FMI, que elevaram os juros a 45% ao ano e que promoveram o racionamento de energia para evitar o apagão”, atacou a petista.

     

    O PT deve escalar o senador Jorge Viana (AC) e o governador reeleito do Acre, Tião Viana, para retomar o diálogo com Marina Silva, em busca do voto dos marineiros em primeiro turno. O secretário-geral da Presidência da República, ministro Gilberto Carvalho, confirmou que eles vão procurar a presidenciável do PSB para conversar. “Nós governamos juntos, temos mais afinidades do que divergências”. Carvalho minimizou o processo de desconstrução promovido pelo PT. Ontem mesmo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou, sem citar a socialista, “que não se constrói uma candidatura do nada”. “Ninguém apanhou mais nessa campanha do que o PT”, afirmou Carvalho.

     

    As armas de cada um

    Confira os principais pontos que o tucano e a petista devem explorar no segundo turno

     

    Aécio Neves (PSDB)

     

    »  O voto útil para tirar o PT do Planalto

    »  O discurso da ética, já que a tendência é que sejam divulgadas a delação premiada de Paulo Roberto Costa e as primeiras denúncias de Alberto Youssef

    »  Os resultados pífios da economia

    »  A eleição em primeiro turno de tucanos de peso, como Geraldo Alckmin e Beto Richa, o que permite que se tornem cabos eleitorais efetivos

    »  A possível migração de votos dos marineiros

     

    Dilma Rousseff (PT)

     

    »  A máquina petista federal e o discurso do medo do fim dos programas sociais

    »  Os movimentos sociais e os sindicatos

    »  As vitórias petistas em Minas Gerais e na Bahia (segundo e quarto colégios eleitorais, respectivamente), liberando Fernando Pimentel e o ex-governador Jaques Wagner para trabalhar exclusivamente na campanha presidencial

    »  Lula como cabo eleitoral na corrida presidencial

    »  A aposta de que parte dos marineiros é mais petista do que tucana

     

    Fonte: Correio Braziliense

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