Dilma indica ser contra revisar Anistia

    Presidente diz que reconhece “pactos políticos” que levaram País à redemocratização, assim como os que lutaram pelo fim da ditadura 

    Tânia Monteiro / Brasilia 

    A presidente Dilma Rousseff indicou não concordar com a revisão da Lei de Anistia, co­mo desejam grupos de esquerda e a Anistia Internacional, que lança hoje uma campa­nha em prol da alteração do texto, e alguns senadores. Em discurso no Palácio do Planal­to, Dilma aproveitou para en­dossar uma decisão do Supremo Tribunal Federal de 2010, que considerou constitucio­nal a lei de 1979 que impediu a punição dos crimes cometi­dos a partir de 1964 até então. Os militares são contra a revisão da legislação. 

    “Nós reconquistamos a de­mocracia à nossa maneira, por meio de lutas e de sacrifícios hu­manos irreparáveis, mas tam­bém por meio de pactos e acor­dos nacionais, muitos deles tra­duzidos na Constituição de 1988”, afirmou a presidente, que se opôs ao regime militar e atuou em grupos armados da es­querda. Em seguida, Dilma fez questão de justificar sua posi­ção, ressaltando que, “assim co­mo eu respeito e reverencio os que lutaram pela democracia, enfrentando a truculência ile­gal do Estado, nunca deixarei de enaltecer esses lutadores e essas lutadoras”. A presidente reiterou que “reconhece e valo­riza os pactos políticos que nos levaram à redemocratização”. 

    No discurso, feito no dia em que foram lembrados os 50 anos do golpe militar, Dilma lembrou que ela mesma foi pre­sa e torturada, citou as dores que todos sofreram e que deixa­ram “cicatrizes visíveis e invisí­veis”. Para a presidente, essas ci­catrizes “podem ser suportadas e superadas porque hoje temos uma democracia sólida e pode­mos contar nossa história”. 

    Para Dilma, todo o processo de redemocratização do Brasil “foi construído passo a passo durante cada um dos governos eleitos depois da ditadura”. A presidente fez questão de justi­ficar que sua posição nada tem a ver com esquecimento, mas a defesa da verdade. “A palavra verdade é exatamente o oposto do esquecimento” e “é algo tão forte que não dá guarida para o ressentimento, ódio e nem tam­pouco para o perdão. E é só e sobretudo o contrário do esque­cimento. E memória e é histó­ria”, afirmou Dilma. 

    O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, também aproveitou para lembrar que a Constituição exige que o Esta­do peça desculpas e faça reparação a todas as pessoas que tive­ram seus direitos, sua integridade e sua dignidade violados nos 21 anos de regime autoritário. “Durante muito tempo os mi­nistros da Justiça diziam que não tinham nada a declarar, e hoje o ministro da Justiça dizer, em nome do povo, do Estado brasileiro, que pede desculpas por aquilo que foi feito na época da ditadura, pelas mortes, pelas torturas, pelas famílias que cho­raram, é algo que mostra um no­vo tempo, uma nova realidade democrática que temos orgu­lho de termos conquistado.” 

    Senado. 

    No Congresso, sena­dores defenderam a revisão da Anistia em uma solenidade que não contou nem sequer com a presença do presidente do Sena­do, Renan Calheiros (PMDB- AL). O senador João Capiberibe (PSB-AP), idealizador da so­lenidade, afirmou que os cri­mes cometidos durante o regi­me militar ficaram impunes. “A impunidade fez com que até ho­je se realize torturas em delega­cias”, afirmou. Ele cobrou a aprovação dos projetos de lei do senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) ou da deputada Luiza Erundina (PSB-SP) que revi­sam a Anistia de 1979.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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