Dilma leva a crise na bagagem

    Embarque da presidente para os Estados Unidos e impasse sobre novos ministros do PMDB esticam o desgaste pelas trocas na Esplanada até a semana que vem

    As dificuldades para definir o que o governo tem para oferecer e o que o PMDB está, de fato, disposto a aceitar, obrigaram a presidente Dilma Rousseff a adiar em pelo menos uma semana o anúncio da reforma administrativa que deveria ter sido apresentada na última quarta-feira. O impasse com o principal aliado e a dificuldade para realocar peemedebistas que ela deseja contemplar fez com que Dilma embarcasse para Nova York desgastada politicamente por não conseguir fechar uma equação aberta por ela própria, quando, no fim de agosto, anunciou que cortaria 10 ministérios. 

    O aviso do adiamento foi dado pela própria Dilma ao vice-presidente Michel Temer, durante encontro entre os dois, na manhã de ontem, no Palácio da Alvorada. Dilma escalou os ministros da Casa Civil, Aloizio Mercadante, das Comunicações, Ricardo Berzoini, e o assessor especial da Presidência, Giles de Azevedo, para continuar as conversas com os aliados até lá. 

    Não está certo, contudo, se o anúncio acontecerá no início da próxima semana – Dilma retorna dos Estados Unidos na tarde de segunda-feira. “Se tiver necessidade de novas reuniões e conversas, tanto melhor. Não podemos errar neste momento”, definiu, claramente, um interlocutor do governo. Em nota, o Planalto informou que “alguns dos partidos que integram a base aliada solicitaram o adiamento do anúncio da nova composição ministerial, para que mais consultas possam ser realizadas”. 

    Maior contemplado com as mudanças na Esplanada é justamente o PMDB, que está emperrando a conclusão das mudanças. No desenho definido após o partido indicar sete nomes da bancada na Câmara, na terça-feira, um deputado assumiria a Saúde, de onde sai o petista Arthur Chioro; e outro para o Ministério da Infraestrutura, resultado da fusão das secretarias de Portos e de Aviação Civil. Isso implicaria na saída de Edinho Araújo e Eliseu Padilha, respectivamente. Próximo do vice-presidente Michel Temer e com atuação determinante na articulação política e na distribuição de cargos nos últimos meses, o Planalto resiste à saída de Padilha do governo. 

    Por esse motivo, de quarta para quinta-feira, o cenário passou a ser a manutenção dele no cargo e o recuo na unificação das duas pastas. Assim, Portos ficaria com Helder Barbalho, filho do senador Jader Barbalho (PMDB-PA), próximo ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O arranjo evitaria atrito com o Senado em um momento decisivo na votação de medidas do ajuste fiscal e para barrar as chamadas “pautas bombas”, que aumentam os gastos do governo, como a derrubada de vetos presidenciais. A sessão que analisará o reajuste do Judiciário está prevista para a próxima quarta-feira. 

    Responsável pelas negociações em nome da bancada, o líder do partido na Câmara, deputado Leonardo Picciani (RJ), por sua vez, diz que qualquer arranjo que não seja Saúde e Infraestrutura, implicaria em reavaliar o acordo. “Quando a presidente tomar a decisão, vamos avaliar”, disse ao Correio. A saída de Chioro, por sua vez, é dada como certa. Ele esteve ontem no Palácio da Alvorada. A reunião era esperada. Desde o início da semana, o petista teve uma série de conversas com assessores próximos, em clima de despedida.

     

    Situações definidas

    Algumas soluções mais simples já foram encontradas. Dilma acertou com o PDT a ida para o Ministério das Comunicações – o indicado é o líder da bancada na Câmara, André Figueiredo (CE). Ontem, a presidente esteve com Manoel Dias, titular do Trabalho, que deixará o cargo, já que a pasta será unificada com Previdência. Também foi definida a criação do Ministério da Cidadania, que reunirá as pastas de Direitos Humanos, Mulheres e Igualdade Racial. Os mais cotados para comandá-lo são, Miguel Rossetto, da Secretaria-Geral da Presidência – que será extinta -, e a titular da Secretaria de Mulheres, Eleonora Menicucci. 

    Apesar de ter reclamado muito do pacote fiscal anunciado pelos ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa, o titular do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDCI), Armando Monteiro, deve continuar à frente da pasta. Ontem, o líder do partido na Câmara, deputado Jovair Arantes (GO), foi ao Alvorada encontrar o titular das Comunicações, Ricardo Berzoini, que assumirá oficialmente a articulação política.

    São, basicamente, duas as justificativas para a manutenção do petebista no MDIC. O primeiro é que ele é da cota pessoal da presidente Dilma, tendo sido o primeiro nome anunciado em dezembro do ano passado. O segundo é que ele tem boa interlocução com o setor empresarial, que anda reticente com a presidente. “Não será feita nenhuma mudança na equipe econômica. Levy, Armando e Barbosa ficam e o Banco Central não perderá status de Ministério”, assegurou um interlocutor privilegiado das negociações. Antes de embarcar, Dilma deixou assinado o veto ao financiamento privado de campanha, aprovado pelo Congresso.

     

    Vai e vem

    Confira o que mudou nos planos do Planalto para a reforma ministerial em 24h

     

    Até quarta-feira

    Saúde: sai de Arthur Chioro (PT ); entra o deputado Manoel Júnior (PMDB-PB) ou o deputado Marcelo Castro (PMDB-PI). 

    Infraestrutura: unificação das secretarias de Portos e de Aviação Civil. Com a saída dos titulares, respectivamente Edinho Araújo (PMDB) e Eliseu Padilha (PMDB), assumiria José Priante (PA), Mauro Lopes (MG), Celso Pansera (RJ) ou Newton Cardoso Júnior (MG). 

    Pesca: seria incorporada pela pasta da Agricultura, sob o comando de Kátia Abreu (PMDB-TO). Helder Barbalho, filho do ex-senador Jader Barbalho, aliado do Planalto no Senado, ficaria desempregado. 

    Turismo: manutenção de Henrique Eduardo Alves, que assumiu a pasta em abril.

     

    Na quinta-feira

    Portos: sai Edinho Araújo e entra Helder Barbalho, com o fim da Pesca, a fim de garantir o apoio de Jader Barbalho no Senado. 

    Aviação Civil: permanência de Eliseu Padilha, próximo ao vice-presidente Michel Temer e com atuação de destaque nos últimos meses na articulação política e distribuição de cargos.

    Turismo: Planalto considera Henrique Alves como segundo nome da bancada do PMDB na Câmara, mas partido discorda e fragiliza a posição do ministro. 

    Comunicações: saída de Ricardo Berzoini para a Relações Institucionais deixa a cadeira, provavelmente, para o PDT – o deputado André Figueiredo (CE) é o mais cotado para o cargo. 

    Secretaria de Relações Institucionais (SRI): será comandada por Ricardo Berzoini e deve abrigar as funções hoje desempenhadas pela Secretaria-Geral da Presidência. 

    Secretaria-Geral da Presidência: incorporada à SRI. Atual titular, Miguel Rossetto vai comandar a pasta dos Direitos Humanos. 

    Cidadania: secretarias de Direitos Humanos, Políticas para Mulheres e Políticas de Promoção da Igualdade Racial se tornam Ministério da Cidadania, que deve ser comandado por Miguel Rossetto (PT). Eleonora Menicucci corre por fora. 

    Ministérios do Desenvolvimento Agrário e do Desenvolvimento Social: fusão entre as duas pastas, com Patrus Ananias, ministro, e Tereza Campello, secretária-executiva.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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