Dilma mergulha na crise no Congresso

    Com a popularidade em baixa, a presidente enfrenta dificuldades na articulação com o parlamento

    A tarde de ontem no Congresso afunda o governo novamente no pesadelo da relação conturbada com o parlamento. “O que este governo anda fazendo, hein? Pior que ainda nos empurra para o fundo com ele”, protestou o líder do PSC na Câmara, Hugo Leal (RJ), a um atônito Arlindo Chinaglia (PT-SP). 

    “Isso não se faz, a base está querendo roubar o nosso papel de oposição. Deixa um pouquinho para a gente”, tripudiou o líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR). Mais cedo, ele já ressaltara que a pesquisa Datafolha, apontando uma rejeição de 62% à presidente Dilma Rousseff, desmascara o argumento de que só a elite branca foi às ruas no último domingo, por estar insatisfeita. “Dilma teve 16% de aprovação no Nordeste. O eleitorado dela também não está gostando do governo”, completou Bueno.

    O momento é complexo, independentemente do cenário em que se vislumbre. No início da manhã de ontem, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, reuniu-se com um grupo de 30 deputados. Tentou dizer que o partido precisa fazer mobilizações de rua para reverter o desgaste do governo. “Não conseguiu apontar nada organizado para o momento ou um caminho para reverter o quadro atual”, admitiu uma liderança petista. 

    Nem mesmo o pacote anticorrupção anunciado pela presidente ontem, como uma tentativa de implantar uma agenda positiva, serviu de consolo. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) afirmou que o governo sempre corre para as mesmas medidas quando a situação se complica. Para ele, a pesquisa mostra que não é só a oposição que está contra o governo. Ele afirmou também que se é para combater a corrupção o governo deveria “afastar o Vaccari (João Vaccari Neto, tesoureiro do PT”. O senador ainda disse que a oposição vai apresentar projeto para que partidos que receberam dinheiro de corrupção para campanha tenham registro cassado. 

    Indulto

    O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), criticou o fato de a presidente não ser investigada no âmbito da Operação Lava-Jato. “Acho que, antes de apresentar pacotes anticorrupção, a presidente deveria apresentar projeto que libere a investigação de fatos que não sejam diretamente ligados ao mandato, para que tudo fique claro”, disse. “A queda da popularidade fecha o ciclo da ingovernabilidade do governo”, completou. 

    O senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PA) disse que a oposição não se colocará contra a aprovação das medidas, mas criticou a demora para elas serem enviadas. “As pessoas foram às ruas pedir providências. Lei anticorrupção já existe, o que falta agora é sua regulamentação”, completou o tucano. “O governo já revelou seu caráter, por exemplo, dando indulto de Natal para mensaleiros.”

    Para o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), o governo precisa adotar uma agenda positiva e mudar algumas palavras, como ajuste fiscal. “Arrumar as contas todos os governos precisam arrumar. Mas vamos parar de falar ajuste, porque soa mal. Ajuste você faz em calça comprida”, comparou o petista.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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