Dilma morde a isca e acelera nomeações

    Apesar de ter reagido ao projeto do PMDB de sabatinar dirigentes de estatais, presidente autoriza aliados a tratar das nomeações do segundo escalão

    Pressionada pelo PMDB por todos os lados, a presidente Dilma Rousseff mordeu a isca e acelerou as nomeações dos cargos pedidos pelos aliados. O vice-presidente Michel Temer avisou que não há como chegar à votação da desoneração da folha sem resolver pendências do segundo escalão, sob pena de represálias em plenário. E os presidentes Renan Calheiros (PMDB-AL) e Eduardo Cunha (PMDB-RJ) anunciaram projeto para sabatinar diretores e presidentes de estatais, responsáveis por comandar orçamento de R$ 105 bilhões este ano. 

    Durante lançamento do Plano Safra 2015/2016, Dilma demonstrou toda a irritação com o projeto de governança proposto Cunha e Claheiros. “Vamos fazer uma coisa? Não nos precipitemos. Todos os Poderes no Brasil têm de ser respeitados, a autonomia do Legislativo, a autonomia e a independência de todos os Poderes, o Legislativo, o Judiciário e o Executivo”, disse Dilma. “Eu gostaria de dizer que nós consideramos que a nomeação de estatais, ministérios e autarquias é prerrogativa do Executivo”, resumiu. 

    A proposta da dupla peemedebista pegou mal no Planalto. “Eles estão querendo levar ao extremo o fisiologismo ao propor direito de veto aos indicados para estatais”, reclamou um assessor palaciano. Mais tarde, no Senado, Calheiros rebateu as declarações da presidente. “Não há absolutamente interferência. O que há é um desejo da sociedade que se abra a caixa-preta das estatais. Que isso fique absolutamente transparente, o país cobra isso.” Mesmo ciente de que o projeto ainda precisa tramitar nas duas Casas, Dilma não quer se indispor ainda mais com a frágil base de sustentação no Congresso e autorizou os seus articuladores políticos a acelerar as nomeações do segundo e terceiro escalão. 

    Segundo apurou o Correio, já estão definidos os cargos nacionais das autarquias e bancos públicos. Faltam ainda as negociações para os cargos regionais. O setor elétrico, outra joia da coroa federal, deve esperar mais um pouco. Dilma avisou que fará um exame minucioso das indicações, algo que já fez no primeiro mandato, embora tenha mantido afilhados dos peemedebistas Jader Barbalho (PA) e José Sarney em cargos estratégicos. 

    O gabinete de Temer foi ontem à tarde palco, mais uma vez, de uma reunião com os ministros Eliseu Padilha (Aviação Civil), Ricardo Berzoini (Comunicações) e Aloizio Mercadante (Casa Civil). 

    Responsável pelas negociações com os aliados, Padilha tem uma pasta com anotações coloridas destacando quem deseja qual cargo no segundo escalão. A partir daí, se vê na inglória tarefa de administrar vaidades e interesses dos aliados. O Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs), por exemplo, virou alvo de disputa entre o PMDB e PP. 

    Os pepistas, que assumiram o Ministério da Integração Nacional e abocanharam a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), querem a presidência do Dnocs. Garantem ter recebido o sinal verde dos negociadores do governo. O problema é que a autarquia, neste momento, está sob o comando do PMDB. “Não venham querer tirar o Dnocs do PMDB. O PP quer uma inserção maior no Sul e Sudeste. Não precisam do Dnocs para nada. Eles já têm um Ministério muito maior do que a bancada deles comporta”, atacou uma liderança peedemebista. 

    Pela equação, ainda não aceita por nenhuma das partes, o PMDB poderia ficar com a presidente do Dnocs e o PP com as demais diretorias. No inicio da noite de ontem, Padilha estava atrás do senador Benedito de Lira (PP-PI). Benedito – um dos citados na Operação Lava-Jato que pode ser investigado pelo Supremo Tribunal Federal – deverá ser o tutor do indicado para presidir a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU).

     

    O que está em jogo 

    Os cargos já definidos e outros em disputa

     

    PR

    » Indica os nomes para o Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre (DNIT) nos 26 estados e no Distrito Federal

     

    PSD

    » Presidência do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran)

     

    PP

    » Uma das vice-presidências da Caixa Econômica Federal

     

    » A secretaria nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde

     

    » Codevasf

     

    » Está de olho na Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf) e no Dnocs

     

    PRB

    » Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)

     

    » Presidência da Superintendência de Seguros Privados (Susep)

     

    » Está de olho na Casa da Moeda e no Instituto de Resseguros do Brasil (IRB)

     

    PMDB

    » Eletrosul

     

    » Banco do Nordeste

     

    » Anvisa e Agência Nacional de Saúde Suplementar

     

    » Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT)

     

    » Está de olho no Dnocs e na manutenção dos postos no setor elétrico.

     

    PDT

    » Segue com uma das vice-presidências do Banco do Brasil

     

    Fonte: Correio Braziliense

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