A presidente Dilma Rousseff assumiu, pela primeira vez desde a reeleição, compromissos importantes com o ajuste fiscal e com o controle “rigoroso” da inflação para viabilizar a retomada do crescimento.
Em carta enviada ontem para ser lida no evento do J.P. Morgan para investidores, em São Paulo, Dilma falou sobre os planos para o futuro e sobre a direção das medidas já em estudo.
Ela mencionou que “as iniciativas em análise envolvem tanto reformas do lado fiscal, para adequar a taxa de crescimento do gasto público ao crescimento da economia, quanto maior desenvolvimento financeiro, com aumento da participação de fontes privadas no financiamento de longo prazo, em especial, da infraestrutura”. Endossou, assim, a ideia de se criar um teto para o aumento do gasto compatível com o crescimento da economia, defendida pela maioria dos economistas.
O aval de Dilma às propostas dos novos ministros da área econômica foi claro. “A nova equipe econômica trabalhará em medidas de elevação gradual, mas estrutural, do resultado primário da União, de modo a estabilizar e depois reduzir a dívida bruta do setor público em relação ao PIB”, disse na carta, lida pelo presidente do BNDES, Luciano Coutinho, para uma plateia de mil investidores.
“Também continuaremos a melhorar nossa política de aumento do investimento e de produtividade do trabalho, pois é isso que sustenta um crescimento mais rápido do PIB e dos salários reais, com estabilidade macroeconômica.” Para os próximos anos, escreveu Dilma, “nossa prioridade é recuperar a capacidade de crescimento da economia, com controle rigoroso da inflação e fortalecimento das contas públicas e, assim, garantirmos o emprego e a renda”.
Depois de confirmar e desconfirmar por diversas vezes a participação no evento realizado pelo J.P.
Morgan, Dilma cancelou em cima da hora a presença na abertura do encontro, enviando a carta por intermédio de Coutinho.
O destrato causou mal-estar e foi interpretado por fontes do mercado como um indício de que ela prefere manter certo distanciamento do setor financeiro.
Dilma tem sido criticada por parte dos seus apoiadores por ter nomeado Joaquim Levy para a pasta da Fazenda. Levy já trabalha para implementar um amplo ajuste fiscal, além de outras reformas pró-mercado que constavam da agenda de campanha da oposição e foram fortemente rechaçadas pela presidente enquanto candidata.
A carta foi recebida como um primeiro sinal direto da presidente de endosso do que sua equipe nomeada, e ainda não empossada, já sinalizou. O texto se tornou “um grande evento”, a ser lido e interpretado, segundo comentários de alguns dos presentes na abertura do encontro ontem pela manhã.
Depois de semanas de especulações sobre quem seria o novo ministro da Fazenda, houve uma frustração no mercado financeiro com o fato de Dilma não ter comparecido ao anúncio, ocorrido no Palácio do Planalto, das escolhas de Levy e também de Nelson Barbosa, para o Planejamento, e ALEXANDRE TOMBINI, para o Banco CENTRAL.
A ausência da presidente deixou dúvidas quanto ao seu real comprometimento com as linhas gerais traçadas pela nova equipe para reequilibrar as contas públicas, retomar o tripé macroeconômico e recolocar a economia, mais adiante, na trilha do crescimento.
A mensagem contida na carta, porém, agradou aos investidores.
O texto de Dilma começa com uma justificativa: “A economia brasileira passa por um momento de transição, no qual ainda sofremos os efeitos externos do lento crescimento mundial – inclusive, a redução dos preços das commodities”. Mesmo assim, o governo manteve a inflação “dentro do intervalo estabelecido” e conseguiu sustentar uma baixa taxa de desemprego.
Fonte: Valor Econômico