Procurador- geral recebeu aval. Decisão criou mal-estar com técnicos
– BRASÍLIA- A decisão do Banco CENTRAL (BC) de abrir um processo contra o ex-diretor Alexandre Schwartsman por difamação foi submetida e aprovada pela diretoria da instituição. Segundo fontes do governo, o procurador-geral do BC, Isaac Sidney Ferreira, levou ao colegiado sua ideia de fazer uma queixa-crime contra o economista pelas duras críticas à condução da política de controle da inflação e recebeu sinal verde para seguir em frente.
– Ele considerou que as críticas passavam do limite e que tinha de tomar alguma atitude para preservar a instituição – disse um técnico do governo.
Só que o episódio causou malestar dentro e fora da instituição.
– Não haveria a menor possibilidade de o procurador-geral ter feito uma coisa dessas sem o conhecimento do presidente (do BC, Alexandre)TOMBINI. Isso é coisa de Argentina e Venezuela. Olhe para onde estamos caminhando – desabafou um integrante da equipe econômica contrário à decisão.
Depois da grande repercussão negativa nas redes sociais, na academia e até no próprio governo, o BC desistiu de recorrer da decisão da Justiça Federal, que não aceitou a queixa-crime da autarquia contra Schwartsman por críticas à instituição. Com isso, o processo foi encerrado.
No início do ano, o ex-diretor do BC fez ácidos ataques à atual cúpula da autoridade monetária. Em entrevistas, Schwartsman afirmou que o BC era subserviente ao Planalto e que fazia um “trabalho porco” na política de controle dos preços.
Após a queixa- crime, Schwartsman recebeu apoio nas redes sociais, e colegas do Insper fizeram um abaixo-assinado em repúdio à investida do BC contra a opinião do economista. A lista dos economistas que assinaram a petição é de quase duas mil pessoas.
“A judicialização como instrumento de repressão à divergência representa um retrocesso inaceitável. Felizmente, a denúncia não foi aceita pela justiça”, diz a petição. “A intolerância com a divergência e com a crítica ácida e o recurso da máquina pública para suprimir o contraditório, por meio da utilização de uma instituição pública para constranger alguém judicialmente, configuram uma prática incompatível com os valores que uma democracia deve ter e cultivar”.
Na relação de pessoas que defendem essa ideia, há nomes de peso da economia, como os ex-presidentes do BC Affonso Celso Pastore e Arminio Fraga; André Lara Resende, exdiretor; Amaury Bier e até Nelson Barbosa, ex-secretário executivo do ministro da Fazenda, Guido Mantega – cotado para assumir a pasta num eventual segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.
Fonte: O Globo