Discurso do BC não convence ´Top 5´

    Apesar do endurecimento do discurso do Banco CENTRAL com a inflação e do reconhecimento pelo mercado de que sua comunicação melhorou, os profissionais que mais acertam as previsões para o IPCA dizem ainda não acreditar que a inflação cairá ao centro da meta no ano que vem – mas também não veem o BC ampliando muito mais o atual ciclo de aperto monetário. 

    Essa é a avaliação de instituições integrantes do grupo de “Top 5” para o IPCA. O Top 5 é o grupo no qual o BC inclui mensalmente as casas que mais acertam as previsões para uma determinada variável macroeconômica. O Valor consultou três instituições do Top 5 para o IPCA de médio prazo (Rosenberg Associados, BBM Investimentos e Garde Asset) e três de curto prazo (Itaú Unibanco, Tendências Consultoria e Absolute Investimentos). 

    Em uníssono, essas instituições citam a forte inércia inflacionária como um fator que dificultará o trabalho do BC em promover a ancoragem das expectativas. Por outro lado, a deterioração da atividade econômica, que tem se mostrado mais forte que a esperada, também limita o espaço para o BC continuar subindo os juros. 

    Apenas duas instituições das seis consultadas projetam agora uma taxa básica de juros mais elevada do que previam antes de o BC adotar um discurso mais firme. As projeções para a Selic em 2015 das casas do Top 5 consultadas pelo Valor variam entre 13,5% e 14,5%. A inflação pelo IPCA em 2016 deve ficar entre 5% e 5,8%. Ou seja, mesmo com todo o esforço do BC, alguns dos maiores acertadores de projeções de inflação não veem, por ora, o IPCA no centro da meta no próximo ano. 

    O Itaú Unibanco, por exemplo, não revisou suas expectativas para inflação e Selic. Segundo o responsável pela modelagem e elaboração de cenários para a economia brasileira do Banco, Felipe Salles, a inércia inflacionária vai dificultar o trabalho do BC de levar o IPCA para o centro da meta em 2016. Salles nota alguma melhora nas expectativas para a inflação, dado o recente discurso mais “hawkish” (inclinado ao aperto) do BC. Mas a atividade também tem tido um peso importante nessa melhora, sobretudo do lado do mercado de trabalho, cuja deterioração tem sido “um pouco” mais forte que a esperada, avalia o economista. 

    Isso ajuda a explicar a previsão do Itaú de que a Selic fechará este ano em 13,5%. No entanto, já reconhece a possibilidade de o BC “buscar um valor acima disso”. “Consideramos um cenário plausível a Selic ir acima de 13,5%”, diz. 

    A Tendências ainda não revisou sua previsão para a Selic, atualmente em 13,5%, mas reconhece a possibilidade de a taxa a 14% até o fim do ano. Ainda assim, a casa segue vendo a inflação em 2016 em 5,4%, ou seja, quase 1 ponto percentual acima do centro da meta. 

    A economista responsável pelo acompanhamento de atividade econômica, inflação e política monetária da consultoria, Alessandra Ribeiro, afirma que a resistência da inflação se deve à leniência com a alta dos preços nos últimos anos e que, por isso, o primeiro e principal problema do BC hoje é credibilidade. “Para retomar essa credibilidade no atual momento, o BC dispõe de duas ferramentas: comunicação e taxa de juros. Esses são os instrumentos a serem perseguidos por um BC de credibilidade arranhada”, afirma. 

    O economista-chefe da BBM Investimentos, Tomás Brisola, afirma que, com a Selic a 13,25% ao ano, a política monetária já está “suficientemente apertada”, considerando o objetivo do BC de retomar a confiança perdida. Um juro acima de 14% flertaria com uma política monetária “ultraortodoxa”. “Mais importante do que o BC aumentar a Selic em 0,25 ponto percentual ou 0,50 ponto agora é ele a todo tempo continuar com uma política conservadora, não dando margem para especulações sobre um afrouxamento no compromisso em levar a inflação na meta.” 

    O risco cambial é outro que, para as instituições, o BC precisa monitorar de forma atenta. Esse risco é considerado pela Rosenberg Associados em suas previsões, o que ajuda a explicar a estimativa da consultoria de que o juro alcance 14% neste ano. Com a Selic mais alta, as aplicações em renda fixa brasileira ficam mais atraentes, o que pode limitar a apreciação do dólar ante o real. 

    Dentro do Top 5, algumas casas passaram a prever uma Selic mais alta depois do endurecimento do discurso do BC. É o caso da Absolute Investimentos, que espera agora que a Selic alcance 14,25% até dezembro. O gestor sênior de renda fixa da Absolute Investimentos, Renato Botto, avalia que os preços de serviços são um dos principais desafios ao BC no momento e que a resistência deles em patamares elevados justifica mais aperto monetário. “Os mecanismos de indexação são muito fortes, e isso demanda um esforço adicional quando você está fora dos trilhos.” 

    A inflação de serviços também é um ponto de preocupação para a Garde Asset Management, que passou a prever uma Selic ainda mais alta, de 14,50%, até o fim do ano, o que ajudaria a reduzir o IPCA para 5,8% em 2016. 

    “A inflação de serviços tem nos preocupado, porque ela ainda está muito resistente”, diz o economista-chefe da instituição, Daniel Weeks, para quem essa resiliência se deve em boa parte ao efeito do choque nos preços administrados, que acaba aumentando custos em toda a cadeia produtiva, que são repassados aos consumidores posteriormente.

     

    Fonte: Valor Econômico

    Matéria anteriorComissão na Câmara discute situação do quadro de servidores do BC
    Matéria seguinteInstituições fortalecem índice de Basileia