Disparada das ações acende temor de nova ‘bolha’ no setor de tecnologia

    Em al­ta cons­tan­te des­de o iní­cio de 2017, as ações d das em­pre­sas de tec­no­lo­gia vêm ba­ten­do re­cor­de atrás de re­cor­de – o que ga­ran­tiu, ao lon­go do ano, uma sé­rie de má­xi­mas his­tó­ri­as do ín­di­ce Nas­daq, que reú­ne as ações de gi­gan­tes do se­tor, co­mo Fa­ce­bo­ok, Ama­zon, Ap­ple, Mi­cro­soft e Go­o­gle. Tan­to cres­ci­men­to fez os ana­lis­tas acen­de­rem a luz ama­re­la, com as lem­bran­ças da que­da ge­ne­ra­li­za­da das em­pre­sas de in­ter­net na vi­ra­da do mi­lê­nio.

    ‘O se­tor de tec­no­lo­gia es­tá ri­di­cu­la­men­te so­bre­car­re­ga­do’, dis­se­ram ana­lis­tas do Gold­man Sa­chs, em re­la­tó­rio a cli­en­tes em 9 de ju­nho – o que le­vou a uma que­da ge­ne­ra­li­za­da, mas mo­men­tâ­nea, dos pa­péis do ra­mo. O re­la­tó­rio lem­brou que cin­co gi­gan­tes – Fa­ce­bo­ok, Ama­zon, Ap­ple, Mi­cro­soft e Go­o­gle – adi­ci­o­na­ram US$ 600 bi­lhões em valor de mer­ca­do até ju­nho, valor equi­va­len­te à com­bi­na­ção do Pro­du­to In­ter­no Bru­to (PIB) de Hong Kong e da Áfri­ca do Sul e mais de um ter­ço do PIB do Brasil.

    Con­si­de­ran­do o fe­cha­men­to da úl­ti­ma sex­ta-fei­ra, hou­ve va­lo­ri­za­ção mé­dia de 30% nos pa­péis das seis prin­ci­pais em­pre­sas de tec­no­lo­gia em 2017: a Mi­cro­soft te­ve al­ta de 16,96%, o Go­o­gle su­biu 18,60%, a Ama­zon.com avançou 31,70%, a Ap­ple ga­nhou 35,03%, a Net­flix te­ve ele­va­ção de 45,61% e o Fa­ce­bo­ok sal­tou 47,69%.

    Nes­te ano, as ações do Go­o­gle e Ama­zon che­ga­ram a va­ler mais de US$ 1 mil, en­quan­to to­das as ou­tras com­pa­nhi­as re­no­va­ram má­xi­mas his­tó­ri­cas. O ín­di­ce Nas­daq, que reú­ne ações de tec­no­lo­gia, su­biu no ano mais de 18% até on­tem.

    Em en­tre­vis­ta ao Estadão/Bro­ad­cast, o fun­da­dor da ETF Port­fo­lio Ma­na­ge­ment, Da­vid Krein­ces, dis­se que o se­tor de tec­no­lo­gia apre­sen­tou, em 2017, de­sem­pe­nho superior a to­dos os seg­men­tos do S&P 500, que reú­ne as 500 mai­o­res em­pre­sas dos EUA.

    Se­gun­do ele, os in­ves­ti­do­res acre­di­tam que as te­chs são um ‘por­to se­gu­ro’, as­sim co­mo tí­tu­los pú­bli­cos ou me­tais pre­ci­o­sos, co­mo o ou­ro. Krein­ces vê cla­ra pos­si­bi­li­da­de de uma no­va ‘bo­lha da in­ter­net’. ‘É ques­tão de tem­po. As ações têm su­bi­do de­mais e es­tão mui­to ca­ras.’

    Es­sa ava­li­a­ção en­con­tra voz no mer­ca­do: 57% dos in­ves­ti­do­res en­tre­vis­ta­dos em ju­nho em uma pes­qui­sa do Bank of Ame­ri­ca Mer­rill Lyn­ch dis­se­ram que as ações li­ga­das a tec­no­lo­gia es­tão ‘ca­ras’, en­quan­to 18% ca­rac­te­ri­za­ram o gru­po das cin­co gi­gan­tes co­mo uma ‘bo­lha’.

    Em ju­nho, a pre­si­den­te do Fe­de­ral Re­ser­ve (Fed, o ban­co cen­tral ame­ri­ca­no), Ja­net Yel­len, co­men­tou que a ins­ti­tui­ção não mi­ra os pre­ços dos ati­vos, mas si­na­li­zou que eles es­tão mui­to al­tos. Já na ata da reu­nião de po­lí­ti­ca mo­ne­tá­ria de ju­nho, al­guns pou­cos di­ri­gen­tes do ban­co cen­tral ame­ri­ca­no vi­ram os pre­ços das ações ‘al­tos’ e acre­di­tam que a mai­or to­le­rân­cia ao ris­co au­men­tou es­ses pre­ços.

    Além da aná­li­se do com­por­ta­men­to das ações, Fer­nan­do S. Mei­rel­les, pro­fes­sor da FGV-SP e es­pe­ci­a­lis­ta no mer­ca­do de TI, diz que é ne­ces­sá­rio tam­bém des­con­fi­ar da ca­pa­ci­da­de das em­pre­sas de man­ter os re­sul­ta­dos de ne­gó­cio que apre­sen­ta­ram nos úl­ti­mos anos. ‘A Ap­ple ven­deu 1,2 bi­lhão de iPho­nes, mas se­rá que vai con­se­guir re­pe­tir is­so nos pró­xi­mos anos? É bem pou­co provável.’

    Para Mei­rel­les, ou­tras em­pre­sas tam­bém vão en­fren­tar desafios para man­ter a he­ge­mo­nia atu­al. O Go­o­gle en­fren­ta a mi­gra­ção da na­ve­ga­ção dos desk­tops para os ce­lu­la­res. Já a Tes­la, que ho­je va­le mais do que GM e Ford, pre­ci­sa pro­var que seu mo­de­lo de ne­gó­cio é viável. Se­gun­do o pro­fes­sor, é di­fí­cil que as em­pre­sas con­si­gam man­ter o rit­mo de ino­va­ção a pon­to de jus­ti­fi­car a al­ta que os pa­péis já ti­ve­ram na Bol­sa.

    Ape­sar da for­te va­lo­ri­za­ção, a te­se de que uma no­va bo­lha da in­ter­net vem se for­man­do é des­car­ta­da por al­guns ana­lis­tas. A equi­pe do Gold­man Sa­chs con­cor­da que os pre­ços es­tão so­bre­va­lo­ri­za­dos, mas ava­li­ou que a pri­mei­ra bo­lha da in­ter­net foi, aci­ma de tu­do, um pro­ble­ma de ava­li­a­ção na Bol­sa, e não de ca­pa­ci­da­de de cres­ci­men­to dos ne­gó­ci­os.

    Ana­lis­ta do UBS, Ju­li­an Emanuel afir­mou, em re­la­tó­rio, que as em­pre­sas de tec­no­lo­gia ain­da de­vem ser vis­tas com bons olhos, ape­sar de po­de­rem ter vul­ne­ra­bi­li­da­de no cur­to pra­zo. ‘O po­ten­ci­al de cres­ci­men­to de ga­nhos a lon­go pra­zo per­ma­ne­ce in­tac­to’.

    Fonte: O Estado de S. Paulo

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