Em abril, a Fitch reafirmou a nota do Brasil em BBB, mas alterou a perspectiva do país de estável para negativa. “A situação política e econômica do país se deteriorou desde então”, explicou o diretor excutivo no Brasil da Fitch Ratings, Rafael Guedes. Antes, a projeção da Fitch era de que a dívida pública atingisse 64% do PIB neste ano. Com a retração econômica e os problemas na área fiscal, a relação dívida/PIB foi elevada para 66%. Em 2016, a proporção deverá estar em 70%, segundo texto da agência em que explica o rebaixamento do país. E continuará subindo nos anos seguintes.
“A nossa dívida é alta e cara”, disse Guedes em evento da Câmara Americana de Comércio (Amcham) de que participou, em São Paulo. Ele ressaltou que a trajetória crescente da dívida brasileira é a principal fraqueza do rating do país e que, se não forem feitos os ajustes necessários, a tendência continuará sendo de aumento.
Guedes explicou que a classificação de risco indica a capacidade de pagamento de uma obrigação financeira em um prazo esperado de três a sete anos, um período relativamente longo. “Ratings são desenhados para ser estáveis.” Ele disse que a piora da situação nos próximos meses não vai levar necessariamente à mudança de nota. “Quando fazemos avaliação de rating, estamos olhando a médio e longo prazos”, disse.
“Se o governo dá indicações de que está ciente dos problemas, que são crescimento e superavit primário, e vai atacá-los, mesmo que 2016 seja um ano difícil, isso não necessariamente levaria a mudança no rating” apontou Guedes. “Se, a médio prazo, tivermos uma reversão dos aspectos macroeconômicos e fiscais, isso seria suficiente para manter o rating do Brasil”, disse.
Na avaliação de Guedes, o governo está preocupado em resolver os problemas que país atravessa. “O governo está sugerindo medidas ao Congresso, mas o problema está na sua aprovação”, destacou.
Para Guedes, a reforma ministerial adotada pela presidente Dilma Rousseff tem como objetivo conseguir apoio político para suas políticas no Congresso. “Só que, até agora, isso não se materializou.”
Um dos pontos favoráveis ao país, de acordo com a Fitch, é o nível de reservas internacionais, que está em US$ 373 bilhões. O custo das intervenções do Banco Central por meio das operações de swap cambial tem sido o equivalente a 30% desses reservas. É algo importante para reduzir a volatilidade do câmbio, segundo diretor executivo da Fitch. Ele não espera, porém, intervenção mais forte da autoridade monetária, que poderia gerar “artificialismos”.
“O governo está sugerindo medidas ao Congresso, mas o problema está na sua aprovação”
Rafael Guedes, diretor executivo da Fitch Ratings no Brasil
Fonte: Correio Braziliense