Dobra risco de racionamento e PIB pode cair 1,5% este ano

    O risco de o país enfrentar um racionamento de energia elétrica subiu “significativamente” e pode levar não só à contração de 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015, como afetar ainda mais negativamente todos os principais indicadores econômicos, segundo avaliação do Banco de investimentos Credit Suisse. 

    A probabilidade dos reservatórios do Sudeste e Centro-Oeste chegarem a 15% – mínimo compatível com a necessidade de um racionamento – subiu de 23,1% no início de dezembro para 53,6%. No cenário traçado, o Banco estima que um corte de 10% no consumo de energia entre maio de 2015 e abril de 2016 daria uma folga para que o nível dos reservatórios chegasse a 46% em dezembro. “Mais importante do que o modelo, é a dinâmica de deterioração de nossas expectativas sobre a possibilidade de racionamento que mais do que dobrou em dois meses”, diz o economista-chefe do Credit Suisse, Nilson Teixeira. 

    Com o racionamento nestes moldes, a estimativa é que o PIB em 2015 pode cair até 1,5%, voltando a crescer 1% em 2016. A previsão atual da instituição, sem a contração gerada pelo racionamento, é de queda de 0,5% do PIB em 2015 e alta de 1,5% em 2016. O investimento e o consumo das famílias devem ser os componentes mais afetados pela ótica da demanda. As incertezas acerca dos investimentos, porém, são mais expressivas. A contração pode chegar a 8%, em comparação à queda de 3,5% sem racionamento e superior à retração de 7% prevista para 2014.

    No consumo das famílias, a alta de 0,3% prevista no cenário que não conta com racionamento transforma-se em uma queda ao redor de 0,5%, algo não registrado desde 2003. Para Teixeira, a confiança de empresários e consumidores pode cair muito abaixo dos níveis de 2008 e 2009. 

    A restrição no fornecimento de energia também deve elevar a inflação medida pelo IPCA, de 7,1% para 7,8% em 2015. Segundo Teixeira, embora o segmento de bens duráveis possa contar com preços mais baixos em razão de queda da demanda, os impactos mais importantes viriam de alimentação dentro e fora do domicílio, além, obviamente, dos preços de energia elétrica e água. As contas da equipe embutem uma recomposição de preços nos casos de bandeira vermelha de um acréscimo de R$ 3 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos para R$ 4,50, podendo chegar a R$ 5,50. O cenário seria acompanhado de uma maior desvalorização da moeda local, com o dólar chegando a R$ 3,10 no fim de 2015, em comparação à previsão atual de R$ 2,90. 

    Para 2016, a previsão é que a alta do IPCA seria de 5,9% e não 6,2%. Com o fim do racionamento, diz Teixeira, é natural esperar reduções de preços de energia e interrupção da aplicação da bandeira vermelha. Ele assume ainda que algumas termelétricas, em particular aquelas com preços mais elevados de produção, seriam desligadas. O declínio só não seria maior por conta da depreciação cambial. 

    Comporia o cenário um aumento adicional na taxa Selic para 14% ao fim de 2015 (em comparação com a previsão atual de 13%). O aperto maior combateria a repercussão do choque de preços de energia sobre outras variáveis, abrindo-se um boa janela para a rediscussão da meta inflacionária – para um intervalo entre 7% e 8% em 2015 e reduções nos anos seguintes – de modo a fortalecer a credibilidade do regime de metas. 

    Em meio à redução de receitas, o racionamento seria compatível com uma possível decisão do governo de adiar o cumprimento da meta fiscal. Em 2015, o superávit primário seria de 0,2% do PIB e, em 2016, de 1% do PIB, frente à projeção atual de, respectivamente, 0,7% do PIB e 1,3% do PIB. Desta forma, a dívida pública bruta alcançaria 70% do PIB no fim de 2016. 

    O conjunto bastante desfavorável aumentaria a probabilidade de uma mudança na nota de crédito soberana do Brasil no segundo semestre de 2015 ou primeiro de 2016. O país não perderia o grau de investimento, mas ficaria bem próximo disso. Teixeira, contudo, não descarta a perda do grau em meados de 2017, em caso de uma contração do PIB em 2015 ainda maior do que o previsto contaminar o crescimento de 2016.

     

    Fonte: Valor Econômico

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