Dólar cai pelo quarto dia consecutivo ante o real

    Por Silvia Rosa, José de Castro, Antonio Perez e Lucinda Pinto | De São Paulo

    Dados positivos da economia da China contribuíram para uma recuperação das moedas de países exportadores de commodities e levaram a divisa americana a marcar o quarto pregão consecutivo de queda em relação ao real. Ontem, o dólar comercial caiu 0,43%, encerrando a R$ 2,3090, ainda sob o efeito da rolagem dos contratos de swap cambial (que equivale a uma venda de dólar no mercado futuro) que tinham vencimento previsto para 2 de janeiro de 2014.

    As taxas dos contratos futuros de juros acompanharam a queda da moeda americana e do retorno dos títulos do Tesouro americano (Treasuries) e recuaram na BM&F.

    A produção industrial na China aumentou 10% em novembro na comparação com o mesmo mês do ano passado, em linha com o esperado pelo mercado. Já as vendas no varejo aumentaram 13,7% em novembro, apresentando uma aceleração em relação à alta de 13,3% registrada em outubro.

    Para os analistas, no entanto, o movimento reflete mais uma correção que uma melhora de perspectiva para essas divisas. “Essa apreciação recente das moedas frente ao dólar parece mais uma correção técnica, uma vez que boa parte da expectativa de que o banco central dos Estados Unidos inicie a redução dos estímulos já está no preço dos ativos”, afirma Jankiel Santos, economista-chefe do Banco Espírito Santo (BES).

    Enquanto aguardam a reunião do Comitê de Política Monetária do Federal Reserve (Fomc), nos dias 17 e 18 de dezembro, os investidores aproveitaram para realizar parte dos lucros com as posições compradas em dólar.

    Isso não afasta, segundo o economista do BES, a possibilidade de uma nova rodada de alta do dólar até o fim do ano, dependendo das sinalizações do Federal Reserve (Fed, banco central americano). O BES espera que o Fed inicie a redução dos estímulos monetários em janeiro. “A questão agora não é mais quando vai ser, mas quanto vai ser”, afirma Santos, do BES.

    No mercado interno, o Banco Central rolou mais um lote de 20 mil contratos de swap que tinham vencimento previsto para 2 de janeiro de 2014, numa operação que somou US$ 989,4 milhões. A autoridade monetária confirmou para hoje a rolagem de mais um lote de 20 mil contratos de swap, cuja operação pode somar até US$ 1 bilhão. Com isso, restam ainda US$ 6,93 bilhões a serem rolados. Com o patamar do dólar acima de R$ 2,30, os analistas esperam que a autoridade monetária faça a renovação integral dos contratos.

    Ontem, o presidente do BC, Alexandre Tombini, reiterou que o programa de oferta de liquidez diária no mercado de câmbio será prorrogado para o ano que vem, mas com alguns ajustes, sem informar os detalhes.

    O presidente do BC ainda afirmou que não sabe quanto da volatilidade dada pela expectativa de normalização nos Estados Unidos já foi absorvida pelo mercado. Mas acrescentou que, quanto antes esse processo começar, melhor, pois demonstrará uma recuperação da economia americana.

    Para o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, a prorrogação do programa de leilões mostra que o BC está se preparando a redução dos estímulos nos Estados Unidos. No entanto, qualquer diminuição no volume semanal ofertado nos leilões antes do início da normalização da política monetária nos EUA pode ser “arriscado”. “Talvez a redução dos estímulos, quando de fato vier, não tenha um impacto tão grande, mas, de qualquer forma, promover uma mudança agora nos termos do programa pode gerar uma volatilidade desnecessária”, diz.

    Em meio à calmaria no exterior, os juros futuros desceram mais um degrau na BM&F, dando sequência ao movimento descendente dos últimos pregões. Além da queda do dólar e dos Treasuries, estrategistas citaram a declaração do presidente do Banco Central sobre os efeitos defasados da política monetária sobre a inflação – reforçando a mensagem contida na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) – como um fator que contribuiu para a queda das taxas. Consolida-se a percepção de que o BC pode desacelerar o passo em janeiro, com uma elevação de 0,25 ponto da Selic, para 10,25%, quiçá marcando o fim do aperto monetário. O contrato futuro de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2015 caiu de 10,58% para 10,57%. O DI para janeiro de 2017, que reflete mais a percepção de risco, recuou pelo quinto pregão seguido, passando de 12,15% para 12,09%.

     

    Fonte: Valor Econômico

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