Dólar cede com intervenção e já está em teste nesta terça

    Um “cheque especial” de R$ 80 bilhões em intervenções extraordinárias do Banco Central (BC) e Tesouro em setembro, que acabaram orquestradas – e potencializadas – por sete dias seguidos na passagem para outubro nos mercados de câmbio, derivativos e títulos públicos facilitou a liquidação de negócios com perdas inesperadas; a presença constante das autoridades monetárias no mercado com instrumentos acionados no timing adequado; e uma reforma ministerial cirúrgica pela dimensão, mas relevante por ter substituído, no Palácio do Planalto, um crítico afiado da política econômica por um experiente e habilidoso negociador político explicam o saldo positivo das operações financeiras nesta terça-feira. 

    O saldo positivo será colocado à prova neste primeiro dia de negócios pós-feriado. Nesta terça, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), decidirá sobre o pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff elaborado pelos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior e apoiado pelo PSDB. Em caso de rejeição de um pedido de impeachment, cabe recurso ao plenário da Câmara, onde a aprovação pode ocorrer por maioria simples dos presentes. 

    O dólar caiu 9,82% em 11 sessões desde o recorde de R$ 4,1949 no fim dos negócios na terceira semana de setembro. Na sexta, a moeda fechou a R$ 3,7386 – taxa do início de setembro, quando o mercado foi surpreendido pelo déficit primário embutido na proposta orçamentária de 2016 enviada pelo governo ao Congresso. E já revertida para a meta de superávit primário de 0,7% do PIB. 

    O fluxo cambial de setembro e início de outubro divulgado pelo BC na semana passada mostrou que de fato não ocorreu uma debandada de investidores estrangeiros, o que talvez justifique maior demanda por hedge cambial (feito em contrato de swap) e menos em moeda em espécie (atendida por leilão de linha do BC com compromisso de recompra). Setembro fechou com US$ 111 milhões de saldo negativo, com saída líquida de US$ 1,277 bilhão na conta financeira e superávit de US$ 1,167 bilhão na conta comercial. Em outubro, até o dia 2, o fluxo cambial estava negativo em US$ 2,355 bilhões. 

    Setembro não foi fácil. Foi batizado pelo rebaixamento do rating do Brasil e retirada do grau de investimento pela Standard & Poor´s (S&P). O risco foi agravado pelo intenso “sell off” derivado de informações que deixaram de fazer distinção entre um “hard landing” cultivado pelo mercado para a economia chinesa e um realinhamento monetário global frustrado, graças à indecisão do Federal Reserve de aumentar a taxa de juro. 

    Mas não foi isso que puxou o dólar a quase R$ 4,25, mas a informação, na terceira semana de setembro, que economistas da agência de risco Fitch eram recebidos no Ministério da Fazenda, em Brasília. O temor de que o país poderia perder o segundo grau de investimento duas semanas depois de ter perdido o selo da S&P foi ampliado pela expectativa de que os resultados fiscais de agosto mostrariam piora, o que justificaria o rebaixamento do rating pela Fitch, até agora aguardado. E que deve acontecer, mas em um degrau preservando o grau de investimento do país. Menos mal. 

    A semana passada – marcada inicialmente por forte tensão e expectativa com o julgamento de ações contra a presidente no Tribunal de Contas da União e no Tribunal Superior Eleitoral, agravada pela votação emperrada dos vetos presidenciais a propostas já aprovadas no Congresso com impacto fiscal – teve um momento explicitamente negativo e outro positivo. 

    O momento negativo teve como protagonistas parlamentares do PMDB que armaram um barraco na bancada da Câmara dos Deputados, o que resultou em três suspensões seguidas da votação dos vetos presidenciais até que a sessão fosse encerrada. Positivo foi o momento dedicado por Mauro Leos, analista sênior da agência Moody´s Investors Service, à declaração de que o rebaixamento da nota do Brasil não está em discussão. O país será reavaliado no intervalo entre 12 e 18 meses.

     

    Fonte: Valor Econômico

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