Dólar e DIs caem após fala de Tombini

    Uma ação coordenada do Banco Central e do Tesouro Nacional ajudou a normalizar a liquidez nos mercados e interromper a dinâmica negativa que vinha pressionando dólar e juros nos últimos dias. 

    O anúncio de leilões de compra de títulos públicos e declarações do presidente do BC, Alexandre Tombini, de que a autoridade monetária tem instrumentos e está disposta a usá-los se necessário, contribuíram para o desmonte de posições e levaram o dólar abaixo dos R$ 4. 

    No fim das operações, o dólar marcava R$ 3,9916, queda 3,71%, o maior recuo desde 10 de maio de 2010. A moeda americana chegou a bater R$ 4,2484 na máxima, antes do discurso de Tombini

    As taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) se afastaram das máximas e fecharam em queda na BM&F. O DI para janeiro de 2016 recuou de 14,8% para 14,67%, enquanto o DI para janeiro de 2017 caiu de 16,47% para 15,67%. Já o DI para janeiro de 2021 fechou a 16%, ante 16,8%. 

    Para o economista-chefe do Banco Safra, Carlos Kawall, o BC deixou claro que o instrumento para conter a pressão no câmbio não é subir ataxa de juros, o que ajudou a reduzir as incertezas no mercado. “A ação do BC e do Tesouro trouxe um alívio para os mercados dentro da espiral negativa que predominava até então.” 

    Segundo Kawall, Tombini deixou claro que o BC não vai se guiar pelos preços de mercado na decisão de política monetária. “Você só sobe os juros se a economia está crescendo muito, para conter a pressão de demanda, ou em um processo de fuga de capitais. Mas o Brasil não está passando por uma fuga de capitais”, diz. 

    Ontem, BC e Tesouro já colocaram em prática suas munições. O Tesouro anunciou um programa de intervenção no mercado de títulos públicos, que tem por objetivo conter a forte volatilidade dos juros dos últimos dias. O Tesouro fará operações diárias de compra e de venda de Notas do Tesouro Nacional – série F (NTN-F), papéis prefixados, no período de 25 de setembro e 2 de outubro, para garantir referência de preço aos títulos e oferecer uma porta de saída para investidores que estão tendo perdas com os papéis em carteira. 

    Na outra ponta, o BC tem atuado para garantir a liquidez no mercado de câmbio por meio de leilões de linha com compromisso de recompra ao mesmo tempo em que oferece “hedge” (proteção) a investidores ao ofertar contratos de swap cambial, que equivalem à venda de dólar no mercado futuro. 

    O BC realiza hoje o terceiro leilão extra de swap cambial na semana, em que ofertará 20 mil contratos (US$ 1 bilhão), a mesma quantidade oferecida nos leilões anteriores. A autoridade monetária ainda oferecerá até US$ 1 bilhão por meio de leilão de linha. 

    O movimento de correção de posições nos juros ocorreu após as declarações de Tombini, durante a apresentação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), onde afirmou que BC e Tesouro dispõem de instrumentos adequados para reduzir a volatilidade e a ansiedade dos mercados. Ele ainda lembrou que reservas internacionais são um seguro que podem e devem ser utilizadas. 

    Ao mesmo tempo em que o presidente do BC dava seu recado ao mercado, o Tesouro realizou o leilão de recompra de NTN-F. Embora tenha sancionado taxas altas na recompra dos papéis, acima de 16,9%, o objetivo do Tesouro era trazer de volta a normalidade no mercado de juros. 

    O Tesouro iniciou sua atuação no mercado de forma mais efetiva no última dia 22, quando decidiu fazer um leilão simultâneo de compra e venda de Notas do Tesouro Nacional – série B (NTN-B), papel, atrelado à inflação. Desde então, já fez três leilões desse tipo de NTN-F. Também cancelou dois leilões de prefixados, para evitar pressionar ainda mais as taxas. Nenhuma dessas tentativas, entretanto, tinha se mostrado suficiente para interromper a dinâmica negativa nos juros e dólar. 

    Para o superintendente-executivo da área de câmbio do Santander, Mauricio Auger, o movimento forte de alta do dólar nos últimos dias teve pouca correlação com uma saída de recursos e refletiu uma busca por hedge. “O ´trigger´ para o movimento de hoje [ontem] foi a normalização do mercado de juros e, assim que a liquidez voltou, os clientes voltaram a atuar no mercado”, diz. 

    O movimento no câmbio ontem, segundo analistas, reflete o desmonte das posições de hedge (proteção contra variação cambial) no dólar futuro. A forte queda da moeda americana fez disparar ordens de “stop loss” (de limite de perdas), o que acentuou ainda mais esse movimento. 

    O discurso de Tombini foi considerado firme e, por isso, suficiente para interromper o ciclo vicioso do mercado. Mas, dizem profissionais, não se pode descartar novas ondas de volatilidade. “Tem muita gente machucada e, se a volatilidade continuar, o BC vai ter que colocar o discurso em prática”, diz um operador. 

    Para Kawall, o BC deve continuar atuando no câmbio, mas não deve se comprometer com um programa de oferta diária de swaps cambiais como o anunciado em agosto de 2013. “Não estamos em 2002, hoje o país tem reservas internacionais e pode e deve usá-las”, afirma.

     

    Fonte: Valor Econômico

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