A melhora do ambiente internacional com a expectativa de um acordo entre a Grécia e seus credores sustentou a queda do dólar e dos juros futuros nas operações de ontem.
No decorrer do pregão, a moeda americana perdeu força e fechou com baixa de 0,65%, a R$ 3,0806. No mercado de juros, as taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) recuaram na BM&F, a despeito da piora das projeções de inflação apontada pelo Boletim Focus do BC.
O contrato DI com vencimento em janeiro de 2016 caiu de 14,23% para 14,19%, e o DI para janeiro de 2017 teve recuou de 14,04% para 13,92%.
Os resultados decepcionantes do IPCA-15 de junho e do IPCA de maio, ambos bem acima do esperado, voltaram a gerar preocupações sobre a resistência da inflação no Brasil, algo refletido pelas revisão para cima nas projeções de inflação divulgados pelo Boletim Focus ontem. O levantamento feito pelo BC mostrou avanço na expectativa de inflação para este ano, cuja mediana das projeções subiu de 8,79% para 8,97%. A mediana da projeção para a inflação em 2016 manteve-se em 5,50%.
Com isso, o mercado prevê nova elevação de 0,5 ponto percentual da taxa Selic, com a mediana da projeção para a taxa básica subindo de 14% para 14,25% neste ano. Além disso, houve piora da projeção para o PIB, que passou de uma retração de 1,35% para queda de 1,45% em 2015.
Para alguns agentes, os números acima do esperado da inflação corrente ajudam a explicar o tom mais “hawkish” (inclinado ao aperto monetário) do BC. Por outro lado, aumenta a preocupação de que novas altas de juros possa deprimir ainda mais a atividade, o que pode levar o mercado a revisar para baixo a estimativa para o superávit primário de 2015, que nas contas de investidores dificilmente ficará acima de 1%.
Nesse cenário pouco animador, investidores aguardam com ansiedade a divulgação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), nesta quarta-feira, no qual o Banco Central deve atualizar suas projeções de inflação e dar subsídios para que o mercado avalie as apostas quanto ao rumo dapolítica monetária.
A política fiscal também segue no radar do mercado. A Câmara deve votar nesta quarta o aguardado projeto que reduz as desonerações da folha de pagamento de 56 setores da economia, medida que integra o ajuste fiscal.
Com as preocupações em relação à economia local ainda em alta, o respiro do mercado ontem pode ter sido apenas passageiro, tendo refletido o abrandamento na aversão ao risco no exterior. A última proposta de reforma apresentada pelo governo da Grécia ontem trouxe a esperança de um possível acordo com os credores internacionais para encerrar o impasse sobre o programa de resgate financeiro.
Uma nova reunião dos ministros de Finanças da zona do euro, o Eurogrupo, foi marcada para o dia 25. A Grécia precisa chegar a um acordo com os credores para conseguir a liberação de novas parcelas do pacote de resgate para poder honrar a dívida de 1,6 bilhão com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que vence no dia 30. Um eventual calote do governo grego poderia ser o primeiro passo que levaria o país a abandonar a zona do euro.
Fonte: Valor Econômico