O fraco resultado fiscal do setor público divulgado ontem acrescentou uma dose de desconfiança quanto às ações do governo para recuperar a credibilidade na política econômica. Os números reforçam a preocupação do mercado em meio a escalada da crise política, que aumentou as dúvidas sobre a implementação do ajuste fiscal.
O mercado de juros futuros é o melhor termômetro para se medir o desconforto dos investidores. Os elevados patamares das taxas projetadas na curva a termo e a redução na inclinação negativa da curva são dois dos principais elementos que comprovam esse ambiente de cautela.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2017, que concentra as apostas para a política monetária daqui até o fim de 2016, fechou o mês 0,6 ponto percentual acima do encerramento de fevereiro. Ontem, as taxas de juros futuros mostraram recuo na BM&F, acompanhando o dólar. Analistas afirmam ainda ter verificado um fluxo mais positivo por parte de investidores estrangeiros, que buscam aproveitar os altos prêmios embutidos na curva de juros. O DI para janeiro de 2016 caiu de 13,59% para 13,5%, enquanto o DI para janeiro de 2017 desceu de 13,47% para 13,38%.
O alívio dos últimos dias ocorreu mais por um ajuste técnico do que por melhora nas expectativas, prejudicadas pelo ceticismo sobre a capacidade de o Banco CENTRAL entregar a inflação no centro da meta no próximo ano.
Outra evidência de desconfiança do mercado vem da chamada inclinação da curva a termo. A diferença mais utilizada atualmente para medir essa curva se baseia nas taxas de DI com vencimento em janeiro de 2021 e janeiro de 2017. Apesar de seguir negativa, o que mostra a expectativa de que as ações de política agora abrirão espaço para juros mais baixos à frente, essa diferença aumentou de -0,65 ponto percentual em 9 de março para -0,44 ponto ontem.
O alívio, contudo, é visto como momentâneo, diante das constantes incertezas com a implementação dos ajustes fiscais.
Ontem o Tesouro divulgou o resultado fiscal do governo central, que mostrou déficit primário de R$ 7,357 bilhões em fevereiro, pior resultado desde fevereiro de 1997.
Para o gestor de renda fixa e derivativos da Brasif Gestão, Henrique de la Rocque, o mercado ainda confia na implementação do ajuste fiscal, mas com um “pé atrás”. “Se o mercado tivesse confiança plena, se fosse óbvio pensar na aprovação do ajuste, o mercado certamente estaria melhor, não teria esse prêmio de risco embutido na curva de juros.”
A incerteza em relação ao ajuste fiscal tem colaborado para o aumento da volatilidade da taxa de câmbio. Ontem, o dólar fechou em queda de 1,18%, a R$ 3,1922, diante de um fluxo positivo de recursos e da disputa para a formação da taxa Ptax do fim do mês, que serve de referência para a correção da dívida externa das empresas no fechamento do balanço do primeiro trimestre. Com isso, a moeda americana encerra o mês em alta de 11,80%, acumulando valorização de 20,02% no ano.
A oferta de até US$ 2,5 bilhões em linha de dólar com compromisso de recompra também contribuiu com o movimento. Hoje o BC inicia a rolagem do lote de US$ 10,115 bilhões em contratos de swap cambial que venceria em maio. Serão renovados até 10.600 contratos, cuja operação poderá somar até US$ 530 milhões. Se mantiver o mesmo ritmo, o BC deve concluir a rolagem integral do lote que vence em maio.
Fonte: Valor Econômico