Por José de Castro | De São Paulo
O salto do dólar ontem para cima de R$ 2,30 na máxima do dia, o que não acontecia desde agosto, reforçou o debate no mercado sobre a possibilidade de o Banco CENTRAL intensificar as intervenções no câmbio. Especialistas, contudo, ainda consideram precipitado apostar nisso, devido à característica diferente do recente movimento de apreciação da moeda americana.
Apesar de perder força durante o pregão, o dólar fechou ontem em alta, de 0,17%, a R$ 2,2902.
Há um mês, a estabilidade de Dilma Rousseff (PT) nas pesquisas eleitorais, que contrariou na época expectativas de queda, e declarações de integrantes da equipe econômica do candidato Aécio Neves (PSBD) de que um governo tucano retomaria a livre flutuação da taxa de câmbio, provocaram um rali no dólar, que no dia 8 de agosto superou a marca de R$ 2,30. Naquela mesma sessão, o BC anunciou a ampliação de 8 mil para 10 mil contratos no volume ofertado nas rolagens de swap cambial.
Apesar das semelhanças entre os momentos – o dólar tem subido em meio a questões eleitorais, rompendo novamente a resistência dos R$ 2,30 -, o mercado ainda se mostra cético quanto a um reforço nas atuações agora. O ponto principal citado por analistas é o fato de a alta corrente da divisa fazer parte de um movimento global e não restrito ao Brasil, como foi a escalada de agosto.
Na semana encerrada no dia 8 de agosto, o dólar teve apreciação de 1,20% ante o real. No mesmo período, a moeda subiu apenas 0,35% frente à divisa da Austrália, e 0,54% contra a lira turca. Frente ao rand sul-africano, o dólar caiu 0,18%.
Desta vez, contudo, a moeda americana tem se fortalecido de forma generalizada. A divisa dos EUA já avançou nesta semana 2,27% ante o real e acumula ainda ganhos de 2,36% contra o dólar australiano, 1,60% ante a lira turca e de 2,23% na comparação com o rand da África do Sul.
“O discurso do BC sempre foi pautado pelo descolamento do real. Por esse critério, não há motivo para ele [BC] aumentar as rolagens. Não faria sentido”, afirma o gestor de renda fixa e derivativos da Brasif Gestão, Henrique de la Rocque.
Profissionais de bancos estrangeiros, no entanto, veem o BC mais preocupado com o prejuízo político que uma alta do dólar poderia impor ao governo, algo que passaria ainda pela piora nas expectativas inflacionárias. “O nível de R$ 2,30 incomoda o BC e não é de hoje. Ele já reagiu em agosto a uma alta assim e não descarto a chance de [o BC] fazer algo parecido agora”, diz o estrategista para a América Latina do Standard and Chartered, Italo Lombardi, em Nova York.
Além do fator inflacionário, o estrategista sênior de câmbio do Scotiabank, Eduardo Suarez, vê a exposição de empresas à alta do dólar como mais um elemento contrário à ideia de o BC permitir um ajuste adicional na moeda.
Fonte: Valor Econômico