Dólar encosta em R$ 2,38 com BC sob pressão

    Por José de Castro | De São Paulo

    O mercado decidiu de vez testar a disposição do Banco CENTRAL em reforçar as intervenções no câmbio e acabou puxando o dólar para quase R$ 2,38 na quinta-feira, numa máxima não vista desde março. A cotação até se afastou desse patamar no fechamento, mas os negócios seguiram permeados pela expectativa de uma atuação mais incisiva da autoridade monetária para evitar o rompimento da marca psicológica de R$ 2,40.

    Para analistas, o Banco CENTRAL só deve alterar sua dinâmica de atuações caso a moeda americana comece a subir “no vazio”. Por ora, apesar de o real acumular uma queda superior a de seus principais pares, a leitura é que há fatores estruturais que justificam o movimento.

    Num sinal de que a “queda de braço” ainda deve continuar, o BC decidiu manter o volume de rolagens de swap em 6 mil contratos. Dada a reação recente do mercado, operadores não descartam que a cotação ameace, já nos negócios de hoje, os R$ 2,40.

    O economista-chefe do BES Investimento do Brasil, Jankiel Santos, lembra que em agosto a moeda brasileira teve uma performance melhor que a média das divisas emergentes. O real avançou 1,38% no mês passado, o dobro da alta de 0,70% do índice MSCI de moedas emergentes.

    Na avaliação de Jankiel, apenas uma alta desenfreada para R$ 2,40 deve chamar o BC ao mercado. No caso de o movimento ocorrer de forma gradual e em linha com o exterior, as chances de uma atuação extraordinária são menores.

    No mercado de opções, é possível ver o nervosismo dos agentes à medida que o dólar se aproxima de R$ 2,40. As opções de compra de dólar com preço de exercício em R$ 2,40 foram os mais negociados dentre os contratos com vencimento em outubro. Na prática, isso sugere que, salvo uma ação mais incisiva do BC, o rompimento desse patamar vai detonar mais ordens de compras, que podem levar a moeda rapidamente para R$ 2,50, próximo alvo dos comprados em opções cambiais.

    O BC já enfrentou neste ano pelo menos duas situações semelhantes. No início de junho, a autoridade monetária dobrou de 5 mil para 10 mil a oferta na rolagem de swaps com vencimento em julho, depois de o mercado ter “punido” o real com uma queda de 1,6% num só dia pela expectativa de que o BC retirasse do mercado cerca de US$ 5 bilhões em swaps. Em agosto, a moeda superou R$ 2,30 e, novamente, o BC aumentou o montante diariamente rolado de 8 mil para 10 mil papéis.

    Para o BNP Paribas, a queda do real foi “rápida demais” e é provável que haja uma estabilização ou alta da moeda nos próximos dias.

    No início da tarde de ontem, comentários, comentários do diretor de fiscalização do BC, Anthero Meirelles, ajudaram a aliviar as cotações. O diretor afirmou que o “câmbio é flutuante” e que há um programa para absorver choques mais fortes de volatilidade no mercado. Meirelles disse ainda que a taxa de câmbio pode ir de um extremo ao outro sem gerar problemas na estabilidade do sistema financeiro. O dólar subiu 0,29%, a R$ 2,3644.

     

    Fonte: Valor Econômico

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