Dólar encosta em R$ 2,43 após nova alta

    José de Castro De São Paulo

     

    A onda de aversão a risco que se alastrou sobre os mercados financeiros externos pegou em cheio o real, impondo à moeda brasileira a maior queda do ano.

     

    Com isso, o dólar terminou no patamar mais forte em quase oito meses, próximo de R$ 2,43.

     

    As compras foram intensas desde o início da sessão, mas ganharam ainda mais força na parte da tarde, quando a liquidez diminuiu e o mercado se deparou com uma escalada das tensões geopolíticas.

     

    O dólar fechou em alta de 1,85%, a R$ 2,4288. É a maior valorização percentual diária desde 5 de novembro, quando a moeda ganhou 1,96%. O patamar de encerramento é o mais forte desde 3 de fevereiro de 2014, dia em que a cotação terminou em R$ 2,4370.

     

    Apesar de o fortalecimento do dólar ter sido global, novamente aqui ele se deu com mais intensidade.

     

    Segundo operadores, o mercado forçou um ajuste mais forte ainda como forma de mensurar o grau de tolerância do Banco CENTRAL à depreciação da taxa de câmbio, que no mês já chega a 7,83%.

     

    “O mercado está chamando o Banco CENTRAL“, disse um profissional da área de câmbio. “Existe uma percepção muito clara de que o câmbio precisa passar por um ajuste. O mercado pega carona na alta global do dólar para impor essa correção, mas também quer saber até onde o BC vai deixar a moeda ir.” Desde terça-feira, quando o BC anunciou um reforço nas rolagens de contratos de swap cambial tradicional, operadores já previam que a pressão sobre a autoridade monetária continuaria. Depois de ter em mente os níveis de R$ 2,30, R$ 2,35 e R$ 2,40, o mercado comenta agora que o rompimento da marca de R$ 2,45 deve levar o BC a agir de forma mais incisiva.

     

    “Mas estamos chegando num ponto em que o BC pode ter de entrar de forma mais pesada no mercado, com outro instrumento, talvez um leilão de venda de dólar à vista”, afirma o estrategista- chefe do Banco Mizuho do Brasil, Luciano Rostagno.

     

    O BC não faz leilões de venda de dólar “spot” desde o início de 2009, quando o país enfrentava o auge da crise financeira global.

     

    Naquele momento, contudo, a moeda americana era cotada abaixo de R$ 2,30.

     

    O desempenho do real ontem só não foi pior que o do dólar da Nova Zelândia, que recuava 1,92% ante a moeda americana no fim das operações. O dólar da Austrália caía 1,11%, o peso mexicano recuava 0,93%, a lira turca cedia 1,08% e o rand sul-africano perdia 0,67%.

     

    O mercado se ressente de um conjunto de notícias. Cresce a percepção de que os juros nos EUA correm o risco subir antes do esperado, visão reforçada por comentários do presidente do Federal Reserve de Dallas, Richard Fisher.

     

    Além disso, as tensões geopolíticas também fazem preço. Repercutiu a informação publicada pela agência de notícias Bloomberg citando outra agência, a MNI, de que parlamentares russos estariam preparando um projeto de lei que permite ao governo tomar ativos estrangeiros em território local. A notícia amplia temores de uma escalada nas tensões entre Moscou e potências ocidentais, num momento em que conflitos no Oriente Médio já preocupam.

     

    Fonte: Valor Econômico

    Matéria anteriorBancários fazem greve a cinco dias da eleição
    Matéria seguinteTesouro sob pressão