Piora de indicadores econômicos e incertezas sobre os rumos da Petrobras empurram a cotação da divisa. Moeda norte-americana atingiu ontem o maior valor em mais de 10 anos, mas fechou estável, a R$ 2,78
Na avaliação do gerente de câmbio da corretora Treviso, Reginaldo Galhardo, parte do movimento de alta, ontem, seguiu a tendência do mercado externo, onde a divisa norte-americana se valorizou frente a várias moedas, em meio às preocupações sobre a possível saída da Grécia da Zona do Euro. Na mínima do dia, a divisa ficou em R$ 2,77. “A oscilação está muito forte. O mercado não tem mais previsibilidade para o dólar. Os investidores vão testando para ver até onde podem chegar”, destacou Galhardo.
Para o gerente da Treviso, como o Banco CENTRAL não vem operando no mercado, a não ser para evitar falta de moeda, com a ração diária do programa de swaps cambiais – operação equivalente à venda futura de dólares -, o mercado procura identificar o patamar em que a autoridade monetária pode intervir para segurar as cotações. “Tem gente apostando em R$ 3, até R$ 3,10”, ressaltou.
Se lá fora o que preocupa é a Grécia, no cenário doméstico os investidores continuavam mostrando reação negativa à nomeação de Aldemir Bendine para a presidência da Petrobras, sentimento que já havia contribuído para elevar o dólar na sexta-feira passada.
Para o economista-chefe da Austin Ratings, Alex Agostini, a volatilidade do dólar ontem foi reflexo do estresse que ocorreu na sexta-feira, após a nomeação de Bendine. “O mercado optou pela volatilidade. Mas o dólar bateu na máxima logo após a atuação do Banco CENTRAL, pela manhã. Quer dizer, os operadores aproveitaram os swaps cambiais para depois operarem na normalidade. Por isso, a moeda fechou estável”, explicou.
Cenário ruim
Outros analistas destacaram que a combinação de apreensão com o futuro da estatal e de fraqueza dos fundamentos macroeconômicos brasileiros faz os ativos do país mostrarem tendência pior que os de outros mercados emergentes. “Os números do país se deterioraram. A projeção para o PIB (Produto Interno Bruto) agora é zero. A de inflação subiu para 7,15%. A expectativa é de continuidade na alta de juros e de redução do superavit primário, de 1,20% para 1% do PIB. Cenário ruim eleva o dólar”, destacou Galhardo.
Na avaliação do economista do portal Moneyou, Jason Vieira, testar o Banco CENTRAL faz parte do mercado. “O dólar subiu ontem frente a diversas moedas. Somam-se a isso números ruins no cenário local. A moeda quase superou o recorde em 10 anos, antes de se acomodar. Resta saber como a autoridade monetária vai lidar com esse tendência de alta das cotações. Dólar elevado aumenta a inflação, e as projeções já dão conta de 7,15% de carestia neste ano”, disse.
Como a principal tarefa do BC é controlar a inflação, Vieira acredita que a instituição não vai tolerar muito mais os testes do mercado. “Ou ele começa a intervir ou a moeda norte-americana vai pressionar ainda mais os índices, que já superam a meta”, disse.
Fonte: Correio Braziliense