O dólar fechou ontem em alta frente ao real com investidores buscando ajustar suas posições após o Banco CENTRAL anunciar o fim do programa de oferta diária de swap cambial, que expira em 31 de março. O fortalecimento da moeda americana frente às divisas emergentes e incertezas no cenário político doméstico também ajudaram a sustentar o movimento.
A moeda americana subiu 2,49% e encerrou a R$ 3,2038.
Apesar da decisão do BC ter vindo em linha com o esperado pelo mercado, com a autoridade monetária reforçando que manterá a rolagem do estoque de swaps cambiais que soma US$ 114,118 bilhões, a leitura é que o câmbio caminha para um realinhamento em relação aos fundamentos em linha com o ajuste dos preços relativos.
O quadro de déficit em conta corrente ainda alto, que está em 4,22% do PIB no acumulado de 12 meses até fevereiro, e o cenário de incerteza no mercado doméstico, especialmente no campo político com a tensão entre o Congresso e o Executivo, sugerem que o dólar ainda tem espaço para subir.
O diretor de mercados emergentes e estratégia do Citi em Londres, Luis Costa, avalia que a decisão do BC de encerrar o programa de “ração diária, em vigor desde 22 de agosto de 2013, faz parte de um movimento global dos mercados emergentes de redução das intervenções no mercado de câmbio em direção a um ajuste dos preços dessas divisas a uma nova realidade de exportações mais fracas e crescimento econômico menor. “Estamos no início do processo de normalização da taxa de câmbio e a realidade dos fundamentos requer um dólar ainda mais alto.”
Para o BNP Paribas, a decisão do BC de acabar com o programa de swaps cambiais foi correta, uma vez que essa estratégia “claramente perdeu eficácia” e o peso fiscal do estoque desses contratos começou a preocupar, afirmam os estrategistas Gabriel Gersztein e Thiago Alday em relatório.
O Banco CENTRAL acumula neste ano uma perda de R$ 42,984 bilhões, até o dia 20 de março, com o ajuste desses instrumentos cambiais ofertados ao mercado, dada a alta de 21,42% do dólar no período. Esse resultado é contábil, uma vez que o BC só realizará a perda nos vencimentos desses contratos.
A Nomura Securities avalia que a decisão do BC está em linha com a guinada na política econômica em curso no Brasil, na qual desequilíbrios antigos estão sendo ajustados para refletir melhor a realidade econômica. “Vemos esses ajustes como necessários e positivos para a economia.”
A performance do real nos próximos meses será um dos fatores que influenciarão as decisões da autoridade monetária sobre eventuais reduções nas rolagens de swaps cambiais que estão vencendo. A Nomura ainda destaca que o ajuste das condições monetárias nos EUA também será um fator decisivo.
O estrategista do Citi lembra que o cenário ainda é de valorização do dólar frente às moedas emergentes, dada a expectativa do início da alta da taxa de juros americana. O Citi espera que o Federal Reserve (Fed, Banco CENTRAL americano) inicie a normalização da política monetáriaem dezembro. Até lá, o cenário será de muita volatilidade, com o mercado reagindo aos dados econômicos nos EUA.
Isso, segundo Costa, deve manter as moedas emergentes sob pressão, sobretudo considerando a divergência política monetária entre os bancos centrais da Europa e dos EUA.
O BC terá que administrar pela frente o cenário de maior incerteza do comportamento da taxa de câmbio e o seu impacto para as pressões inflacionárias.
Apesar da alta do dólar, que sobe 20,46% neste ano, a atividade econômica fraca limita o aumento dos prêmios de risco no mercado futuro de juros.
Ontem as taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) recuaram, com os investidores buscando se posicionar para o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), que será divulgado hoje. O DI para janeiro de 2016 fechou estável a 13,56%, enquanto o DI para janeiro de 2021 recuou para 12,95%, ante 12,97% do pregão anterior.
Fonte: Valor Econômico