Por José de Castro e Silvia Rosa | De São Paulo
A piora do cenário externo para moedas emergentes e a preocupação com a capacidade do governo em promover o ajuste fiscal levou o dólar a ultrapassar ontem o patamar de R$ 3 e impulsionou as taxas dos contratos de juros futuros.
A moeda americana encerrou em alta de 1,03%, indo a R$ 3,0098, maior patamar desde 13 de agosto de 2004.
A valorização do câmbio reforça a visão de que o Banco CENTRAL poder ter de estender o ciclo de aperto monetário para controlar as pressões inflacionárias.
No mercado de juros futuros, a alta de 0,5 ponto percentual da taxa Selic na reunião do Comitê de política monetária (Copom) em abril passou a ser a aposta majoritária. “Ainda acho que muito disso é prêmio, mas o fato é que estamos caminhando para uma situação em que o mercado começa a questionar se o BC vai parar de subir a Selic“, diz o estrategista da Coinvalores Corretora Paulo Celso Nepomuceno. O profissional, no entanto, vê limites para a extensão do ciclo de aperto monetário, sob risco de uma deterioração da já fraca atividade econômica.
A taxa do contrato de Depósito Financeiro (DI) para janeiro de 2016 fechou a 13,33% ante 13,21% do pregão anterior. Já a taxa do DI para janeiro de 2021 avançou para 12,69% ante 12,53%.
Na noite de quarta, o BC elevou a Selic para 12,75% e deixou a porta aberta para a continuidade do ciclo de aperto monetário, mas sem trazer sinalizações no comunicado sobre o ritmo de alta.
Para o Citi, o BC elevará a Selic em 0,50 ponto em abril por causa da volatilidade, com a taxa em 13,25% sendo o pico da Selic.
No mercado de câmbio, o movimento de ontem acompanhou a valorização da moeda americana no exterior. A expectativa de que o Federal Reserve (Fed, Banco CENTRAL americano) deve começar a elevar a taxa de juros em meados deste ano, ampliando o diferencial de juros em relação a Europa e Japão, reforça a tendência de alta do dólar.
Os investidores aumentaram as compras da moeda americana esperando o dado de relatório de emprego (“payroll”) que será divulgado hoje. Se os números vierem mais fortes, o dólar deve continuar a subir, diz Luiz Eduardo Portella, sócio da Modal Asset.
Outro fator que impactou as moedas emergentes foi a piora do cenário político na Turquia. A lira turca liderou as perdas frente ao dólar diante da pressão do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, para que o BC corte a taxa básica de juros, que está em 7,5%.
A preocupação com a capacidade do governo em garantir apoio para a aprovação das medidas de ajuste fiscal também contribui para manter o dólar em alta. A Standard & Poor”s tem se reunido com a equipe econômica nesta semana e há uma preocupação sobre a possibilidade de rebaixamento do rating soberano brasileiro. “O câmbio deve continuar sob pressão até que sejam aprovadas as medidas fiscais”, diz Portella, que vê R$ 3,20 como o próximo patamar do dólar.
Também há dúvidas em relação à atuação do BC no câmbio. A autoridade monetária sinalizou a rolagem parcial do lote de US$ 9,964 bilhões em contratos de swap cambial que vence em abril, o que reforçou a expectativa de que o BC possa encerrar o programa da “ração” diária, estendido até março.
Fonte: Valor Econômico