Economia mundial titubeia e continua dependente do apoio de bancos centrais

    Por Brian Blackstone, Jon Hilsenrath e Marcus Walker | The Wall Street Journal

    Cinco anos depois do fim da crise financeira, o crescimento lento da Europa, a recuperação econômica instável dos Estados Unidos e a desaceleração da China deixam os governos indecisos sobre o que fazer.

    A atividade econômica nos 18 países que compõem a zona do euro cresceu a uma taxa anualizada de apenas 0,8% no primeiro trimestre, mostraram dados divulgados ontem. Excluindo a Alemanha, que avançou a um ritmo robusto de 3,3%, a economia do resto da zona euro se contraiu ligeiramente durante o período. Autoridades do Banco CENTRAL Europeu estão se inclinando na direção de uma redução adicional das taxas de juros para evitar que a região caia num período prolongado de estagnação econômica, enquanto o Federal Reserve, o Banco CENTRAL dos EUA, tenta cautelosamente diminuir seus estímulos à economia.

    Ao mesmo tempo, muitas autoridades americanas admitem reservadamente que esperam que a China tome medidas para impulsionar sua economia e estabilizar o sistema financeiro, caso o crescimento enfraqueça ainda mais ou os efeitos de um boom imobiliário comecem a prejudicar os bancos. Ressaltando a ansiedade dos mercados, as bolsas caíram acentuadamente ontem na Europa e nos EUA. A Média Industrial Dow Jones recuou 1,01%, fechando a jornada com 16.446,81 pontos.

    O rendimento dos títulos soberanos emitidos em grandes mercados desenvolvidos continuou caindo ontem. O rendimento dos títulos alemães com vencimento em dez anos deslizou para 1,307% ao ano, seu nível mais baixo em um ano, enquanto os juros pagos pelas notas do Tesouro americano de dez anos caíram para 2,498%, o menor patamar em seis meses. “Vai levar um bom tempo até vermos uma recuperação real”, diz Andrea Illy, presidente da gigante italiana do café Illy Caffè. “Estou muito cético quanto a como e se podemos crescer e vejo o mesmo sentimento entre os empresários e consumidores na Itália.” Novos dados divulgados ontem nos EUA mostraram o cenário econômico ambíguo que as autoridades do Fed confrontam ao reduzir um programa de compra de títulos de dívida criado para baixar os juros de longo prazo. Ao mesmo tempo, o Fed discute por quanto tempo mais deve manter os juros de curto prazo perto de zero. A produção industrial americana caiu em abril, de acordo com um relatório do Fed, e uma pesquisa mostrou um abalo no otimismo das construtoras de residências do país.

    Várias autoridades do Fed acreditam que o crescimento vem se recuperando no segundo trimestre depois de ter recuado no primeiro, em grande parte por causa do inverno rigoroso. O ritmo de contratações no mercado de trabalho tem sido robusto recentemente. Ainda assim, algumas autoridades estão prevendo que o primeiro semestre pode ser uma decepção. Para complicar a situação do Fed, há sinais de que a inflação está voltando ao patamar de 2% ao ano estabelecido como meta pelo Banco. O índice de preços ao consumidor dos EUA subiu 2% em abril em relação ao mesmo mês de 2013, um avanço notável em relação ao 1,5 % registrado em março e o 1,1% de fevereiro.

    O Fed, porém, prefere trabalhar com uma medida de inflação, o índice de preços dos gastos com consumo pessoal, que geralmente fica abaixo do IPC. A presidente do Fed, Janet Yellen, disse em depoimento ao Congresso americano na semana passada que espera que o Banco CENTRAL conclua seu programa de compra de ativos no fim do ano. Se a inflação ganhar força, o debate no Fed sobre quando começar a elevar os juros deve se aquecer, mas tal discussão ainda parece prematura. A queda acentuada que os juros de longo prazo tiveram nos últimos dias sugere que os investidores – e a maioria dos dirigentes do Fed – não veem os juros subindo nos EUA até, no mínimo, meados de 2015.

    A China, a segunda maior economia do mundo, é outro fator importante no cenário econômico global. Um relatório divulgado no início da semana revelou uma queda de 9,9% nas vendas de moradias na China durante os primeiros quatro meses de 2014 ante o mesmo período do ano anterior. As vendas no varejo e a produção industrial também recuaram. Num sinal de preocupação com a apatia do mercado imobiliário, o Banco Popular da China incitou, no início da semana, os principais bancos do país a dar prioridade aos empréstimos imobiliários para quem ainda não tem casa própria, segundo declaração publicada no website do Banco na terça-feira. O Banco CENTRAL também incentivou os bancos a fixarem juros de hipoteca em níveis “razoáveis”. Até o momento, entretanto, os esforços mais agressivos para estimular o crescimento econômico estão ganhando corpo na Europa.

    O presidente do Banco CENTRAL Europeu, Mario Draghi, notificou os mercados financeiros na semana passada que o Banco provavelmente irá anunciar novas medidas em junho para tentar elevar a inflação, que foi de 0,7% ao ano em abril, bem abaixo da meta do Banco CENTRAL, de cerca de 2%. As afirmações de Draghi receberam mais apoio ontem. “Nós estamos determinados a agir rapidamente se necessário e não descartamos um maior afrouxamento monetário”, disse o vice-presidente do BCE, Vitor Constancio, num discurso em Berlim. No BCE, como no Fed, as autoridades têm dúvidas do que mais deveriam fazer para levantar uma economia que enfrenta uma ampla gama de obstáculos, muitos dos quais estão além de seu controle ou poder para confrontar.

    O legado da crise – incluindo excesso de dívidas, bancos debilitados, maior custo de empréstimo para pequenas empresas e uma queda geral na demanda – está se juntando aos problemas estruturais de longo prazo da Europa, como um mercado de trabalho inflexível e impostos elevados sobre o emprego, para reduzir o crescimento. Embora ainda não esteja claro o grau de ambição e efetividade dos próximos passos do BCE, um corte nas taxas de juros e algumas medidas para encorajar a atividade de empréstimos dos bancos parecem cada vez mais prováveis. “Estamos vendo uma recuperação cíclica em andamento, mas está anêmica, dada a profundidade da crise”, disse Simon Tilford, vice-diretor do Centro para a Reforma da Europa, um centro de estudos apartidário de Londres. “Geralmente, esperaríamos um crescimento mais rápido depois de uma recessão tão grande”, disse. (Colaboraram Manuela Mesco e Christopher Bjork.)

     

    Fonte: Valor Econômico

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