Os reajustes de mensalidades escolares e cursos pressionaram a inflação em fevereiro, avaliam economistas, mas o comportamento mais benigno dos alimentos e de outros serviços manteve os preços em patamar comportado.
Segundo a estimativa média de 26 Instituições Financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,32% no mês passado, pouco acima da alta observada em janeiro, de 0,29%.
Se confirmada a média, esta será a menor taxa do IPCA em meses de fevereiro desde 2000, quando o índice ficou em 0,13%. As projeções para o indicador oficial de inflação, que será divulgado hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), vão de aumento de 0,26% até 0,39%. Na medida acumulada em 12 meses, a expectativa é que a inflação fique praticamente estável, em 2,84%, vindo de 2,86% na medição anterior.
Pela metodologia do IBGE, as correções de mensalidades escolares são computadas no segundo mês do ano, quando os novos valores são cobrados dos consumidores, observa Patrícia Pereira, economista da Mongeral Aegon Investimentos. Por isso, em seus cálculos, o grupo educação acelerou de 0,22% para 3,91% na passagem mensal, principal pressão sobre o IPCA, que deve ter ficado em 0,32%, estima Patrícia.
Mesmo com a variação maior em relação a janeiro, a parte de educação está bem comportada se consideradas as altas em iguais meses de anos anteriores, destaca a economista. “Há uma dificuldade em fazer repasses no setor como víamos antes”, afirma Patrícia.
Os alimentos também seguem registrando comportamento bastante atípico, considerando as pressões sazonais observadas no início do ano, acrescenta a economista da Mongeral. Após alta de 0,74% no primeiro mês do ano, ela estima que o grupo alimentação e bebidas recuou 0,19% em fevereiro.
De acordo com a economista, a conjunção de um clima favorável com estoques elevados remanescentes das safras do ano anterior está moderando a inflação de alimentos, tendência que deve permanecer no primeiro semestre.
Segundo a equipe econômica do Itaú Unibanco, os itens educação e transportes devem ser os principais impactos de alta no IPCA de fevereiro, com contribuições de 0,19 ponto e 0,15 ponto percentual no mês, respectivamente. Já o IPCA acelerou para 0,35% no período.
“Será especialmente importante monitorar a tendência dos núcleos de inflação para determinar se o Copom pode optar por outro corte de 0,25 ponto percentual na taxa Selic na reunião de março”, afirmam os economistas do Itaú em relatório.
Os analistas do banco UBS destacam que os núcleos de inflação, que excluem ou diminuem o impacto de preços voláteis sobre o IPCA, seguem rodando entre 3% e 4% ao ano. Para fevereiro, a instituição trabalha com uma alta mensal de 0,32%, o que resultaria em avanço de 2,8% em 12 meses.
“A inflação baixa é explicada pela capacidade ociosa ainda elevada na economia e pelo real estável ante o dólar. Embora o PIB esteja se recuperando, a atividade econômica terminou 2017 em nível quase 6% abaixo do de 2014″, comenta o departamento econômico do UBS, que prevê alta de 3,7% para a inflação oficial em 2018.
O ambiente de inflação comportada, de acordo com o banco, implica uma decisão difícil para o Copom em seu próximo encontro. Na reunião de março, a autoridade monetária pode manter a Taxa Básica de Juros em 6,75% ao ano, nível já baixo, ou cortar a Selic em mais 0,25 ponto, cenário adotado pelo UBS.
Fonte: VALOR ECONÔMICO