Economistas repudiam ação do BC contra ex-diretor

    Por Eduardo Campos e Juliano Basile | De Brasília

    Acionado judicialmente pelo Banco CENTRAL por emitir opiniões duras à gestão da autarquia, o economista e ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman recebeu ontem apoio dos colegas de profissão. O diretor e vice-presidente do Insper, Marcos Lisboa, organizou abaixo-assinado em repudio à ação do BC.

    O abaixo-assinado está disponível na web – peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=BR74543 – e já conta com mais de cem adesões. Entre os primeiros a assinar estão Affonso Celso Pastore, Afonso Bevilaqua, André Lara Resende, Armínio Fraga, Claudio Haddad, Eduardo Giannetti, Gustavo Franco, José Roberto Afonso, José Roberto Mendonça de Barros, Márcio Garcia, Samuel Pessôa e Luiz Fernando Figueiredo.

    No texto, os autores dizem estar perplexos. “Todos nos acostumamos, durante anos, a ouvir críticas muito piores e inverídicas – como a de que o BACEN seria manipulado pelos bancos – sem qualquer retaliação”, diz o texto. “A judicialização como instrumento de repressão à divergência representa um retrocesso inaceitável,”

    A iniciativa foi uma reação à decisão da Procuradoria-Geral do BC de recorrer contra a decisão da Justiça Federal que negou seguimento à queixa-crime contra Schwartsman, que em entrevistas criticou a gestão do BC no combate à inflação. O BC argumenta que a medida não caracteriza censura à liberdade de expressão. Para os autores da petição, a atitude do BC prejudica a democracia e merece repúdio.

    “A intolerância com a divergência e com a crítica ácida e o recurso da máquina pública para suprimir o contraditório, por meio da utilização de instituição pública para constranger alguém judicialmente, configuram prática incompatível com os valores que uma democracia deve ter e cultivar. Essa atitude prejudica a democracia e as instituições e merece o nosso mais veemente repúdio”, diz o manifesto.

    Procurado pelo Valor, Schwartsman disse que uma queixa-crime, em si, não é necessariamente contrária à liberdade de expressão. “No contexto, porém, em que foi feita, sim”, disse, por e-mail. “Posso ter sido mais incisivo, porque minha posição de consultor me garante certas liberdades, mas não disse nada além do que todos sabem e dizem: o BC não entrega inflação na meta desde 2009.”

    Lembra que o BC prevê inflação acima da meta até meados de 2016, e perto de 6% em 2015. “No entanto mantém a taxa de juros inalterada. Se isso não é “jogar a toalha”, o que é? Se insistiu numa política equivocada em face de críticas de vários economistas de respeito, que tipo de gestão pratica?”, afirmou. Sobre futuras decisões da Justiça, Schwartsman diz confiar que serão favoráveis a ele.

     

    Fonte: Valor Econômico

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