“Emergentes precisam se preparar para aperto nos EUA”

    Por Suvashree Choudhury e Neha Dasgupta | Reuters

    Os mercados emergentes precisam se preparar para o impacto da alta das taxas de juros nos Estados Unidos, que poderá surpreender no momento e no ritmo, disse ontem a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde. 

    Em um pronunciamento feito em Mumbai, Lagarde alertou que poderá haver uma repetição do chamado “taper tantrum” [surto de redução das compras de títulos] visto em 2013, quando a simples menção pelo então presidente do Federal Reserve (Fed) Ben Bernanke de uma redução do programa de compra de bônus do Fed provocou uma onda de vendas no mercado global. 

    “O perigo são as vulnerabilidades acumuladas durante um período de política monetária acomodatícia sendo liberadas subitamente quando essa política for revertida, criando uma volatilidade considerável no mercado”, disse Lagarde em um pronunciamento no Reserve bank of India (RBI), o Banco CENTRAL indiano. 

    “Já experimentamos isso durante o “taper tantrum”… Temo que este não seja um episódio único. Isso porque o momento da alta dos juros e o ritmo dos aumentos posteriores poderão surpreender os mercados.” 

    As economias desenvolvidas poderiam ajudar a reduzir o risco de volatilidade no mercado com uma comunicação clara de suas intenções depolítica monetária. No entanto, os emergentes que enfrentaram vulnerabilidades econômicas se saíram melhor durante as ondas de choque de 2013, disse ela. “Os fatores que ajudaram particularmente a conter a volatilidade dos mercados foram o crescimento maior do PIB, posições externas de conta corrente mais fortes, inflação menor e mercados financeiros de maior liquidez”, diz Lagarde, acrescentando que um setor de serviços financeiros mais resistente também ajudaria. 

    A Índia vem buscando reformas “oportunas, mas que também terão de ser perseguidas com a maior rapidez”, afirmou ela. 

    Lagarde disse que os bancos centrais também devem estar prontos para agir, com suporte à liquidez e intervenções direcionadas no câmbio. Ela justificou o direito de os maiores bancos centrais se envolverem em políticas monetárias heterodoxas, dizendo que elas “supostamente não devem durar para sempre”. 

    “Elas são de natureza temporária e são claramente voltadas, de acordo com as intenções daqueles que adotam essas políticas, para lidar com problemas específicos e determinadas circunstâncias”, disse ela durante uma sessão de perguntas e respostas após seu pronunciamento. 

    Lagarde também descreveu a cooperação entre os bancos centrais em suas políticas monetárias não convencionais como “sólida e frequente, de modo que pode haver uma boa antecipação, uma boa preparação, por parte daqueles que vão sofrer os efeitos secundários”.

    No entanto, o presidente do Banco CENTRAL indiano, Raghuram Rajan, disse que a cooperação global entre os bancos centrais precisa ser mais ativa. “A impressão que tenho é de que o apetite por uma cooperação globalizada é menos do que se desejaria”, observou ele. “Esperamos que quando for preciso a cooperação apareça.” 

    A Índia cortou inesperadamente os juros duas vezes este ano, em reuniões extraordinárias. No comunicado após o corte mais recente, em 4 de março, o BC disse que há o “risco significativo” de um possível contágio da volatilidade nos mercados financeiros internacionais.

     

    Fonte: Valor Econômico

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