A decisão do Banco CENTRAL de liberar mais R$ 25 bilhões para incrementar as operações de crédito não foi tomada, isoladamente, pela diretoria da instituição. Foi uma determinação do governo, que considerou pouco eficiente o pacote anunciado, há três semanas, pela autoridade monetária, injetando R$ 45 bilhões na economia. “Infelizmente, não funcionou a contento”, diz um técnico com trânsito no Palácio do Planalto.
A ordem foi para que o BC ampliasse o raio de ação das medidas, sobretudo para favorece o setor automobilístico. “Sabemos o quanto esse setor é importante para impulsionar o ritmo da atividade. Representa um quarto da indústria e quase 6% do PIB (Produto Interno Bruto”, destaca o integrante da equipe econômica. “Portanto, não podemos fechar os olhos. O Banco CENTRAL, tinha, sim, que corrigir e ampliar suas ações”, emenda.
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) não economizou nas pressões dentro do governo para que o BC corrigisse o que a montadoras chamavam de erros. Na terça-feira à noite, por sinal, o presidente da entidade, Luiz Moan, recebeu indicações da equipe econômica de que o setor teria boas notícias. Entre os avisos e o anúncio das medidas, passaram-se pouco mais de 12 horas. As empresas, em grande maioria, estão fechadas com a candidatura à reeleição da presidente Dilma Rousseff.
Para os analistas, a pressão do governo sobre o BC a fim de estimular a atividade não surpreende. A perspectiva é de que o Palácio do Planalto aja em todas as frentes nos próximos dias, quando se espera péssimas notícias para a economia, a começar pelo enfraquecimento do mercado de trabalho – os dados oficiais saem hoje.
O desejo maior do Planalto era de que o BC pudesse reduzir a taxa básica de juros (Selic), que está em 11% ao ano. Mas a resistência no comando da autoridade monetária é grande. Seu presidente, ALEXANDRE TOMBINI, sabe que corre um grande risco de perder o pouco da credibilidade que ainda lhe resta. Ele reconhece que a inflação mensal vem perdendo força, mas, no acumulado de 12 meses, a taxa continua próxima do teto da meta, de 6,5%.
No entender de integrantes da equipe econômica, com o país mergulhado na recessão, a queda da Selic poderia melhorar, significativamente o humor do empresariado. O problema é que o BC se amarrou. Tanto por meio de comunicados quanto por meio de declarações de seus diretores, a instituição assegurou que não mexerá na Selic tão cedo.Com as eleições se aproximando, não quer misturar juros com política.
Não se pode esquecer que a próxima reunião do Comitê de política monetária (Copom) será em 2 e 3 de setembro, um mês antes de os brasileiros depositarem seus votos nas urnas. Dias antes, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará os resultados do PIB do segundo trimestre, com previsão de queda de até 0,8%.
Os auxiliares de TOMBINI sabem que o tiroteio será grande. Mas acreditam que os R$ 70 bilhões despejados no mercado nas últimas três semanas, seja pela liberação de compulsórios, seja pela flexibilização na composição do capital dos bancos, têm potencial muito maior para estimular a atividade do que um corte, agora, dos juros. No Palácio do Planalto, porém, são muitas as dúvidas acerca desse assunto.
Repeteco
de 2002
» Agora, com Marina Silva confirmada como candidata do PSB à Presidência da República, o mercado financeiro se movimenta para tentar antecipar o comportamento do eleitorado nas próximas semanas. Na avaliação de Tony Volpon, diretor de Pesquisas para as Américas da Nomura Securities, é grande a possibilidade de se repetir o quadro de 2002, quando, cansado de oito anos de gestão do PSDB e ávido por mudanças, o país elegeu Lula. Caso se confirme esse quadro, a substituta de Eduardo Campos será a vencedora em outubro.
Movimento
para o centro
» Para superar Dilma Rousseff e Aécio Neves, contudo, Marina Silva terá, no entender de Tony Volpon, que se mover politicamente mais para o centro, aceitar e mostrar habilidade para agregar forças políticas fora de seu grupo político e se mostrar confiável como agente das mudanças esperadas pela sociedade.
Carne mais
barata
» Analistas do mercado acreditam que o Banco CENTRAL receberá uma ajuda e tanto do campo no fim do ano, para que a inflação fique abaixo do teto da meta, de 6,5%. Com a oferta maciça de carne de boi, os preços do produto devem desabar.
Fonte: Correio Braziliense