Evolução do juro real e compromisso com o regime de metas

    Por Angela Bittencourt | De São Paulo

    O juro real no Brasil está no menor patamar em quatro anos: 3,9%. Desde outubro de 2013, essa taxa não furava a marca de 4%. Há uma semana, na virada de junho para julho, essa ruptura ocorreu. Além das diferenças no cenário econômico nesses dois momentos, em outubro de 2013 o juro era ascendente.

    O piso observado na história recente da economia brasileira já havia sido registrado – 1,39% ao ano em 6 de dezembro de 2012. Esse piso foi alcançado na sequência de uma súbita mudança de mão da política monetária pelo BC em 31 de agosto de 2011, no oitavo mês do 1º mandato da ex-presidente Dilma Rousseff. Naquele momento, o governo praticamente inteiro pregava o corte de juro como uma saída para incentivar a atividade econômica.

    Agora, em 2017, não dá para apostar que a taxa real – calculada a partir do Swap de juro prefixado com prazo de 360 dias deflacionado pelo IPCA ao final de um ano – replicará a queda abissal que se viu entre 2012 e 2013. Há uma importante diferença entre os dois momentos: a projeção de inflação. Lá atrás, no governo Dilma Rousseff, quando a mínima histórica foi alcançada, a inflação projetada um ano à frente era de 5,4%. Aliás, em nenhum momento da gestão da ex-presidente a projeção de inflação chegou à meta de 4,50%. Em 2012, o juro nominal referente ao Swap 360 estava em 6,27%.

    Numa leitura breve, a inflação esperada estava 1,0 ponto percentual acima da meta fixada para o ano porque o Banco Central tornou-se leniente no cumprimento do seu mandato – cumprir o regime de metas para inflação. Em outras palavras, o Banco Central cedeu à pressão política, uma vez que o Executivo em peso defendia com unhas e dentes o corte dos Juros. Sem consistência macroeconômica, o juro voltou a subir porque o descontrole da inflação só cresceu.

    Nesta semana, em que o juro real está abaixo de 4%, a inflação projetada ao final de doze meses é de 4,47% – portanto, na meta – e a taxa do Swap de 360 dias é de 8,6%, 2 pontos percentuais superior à observada naquele tempo. O ciclo monetário, de alívio ou afrouxamento, é viabilizado pela brutal desinflação da economia brasileira – resultado da combinação de preços de commodities em baixa no mercado internacional, arrastando os preços dos alimentos, e retração da economia em 7,5% em apenas dois anos. Sem dúvida, entra na conta a determinação do Banco Central de cumprir o regime de metas.

    Fonte: Valor

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