Fabricação de moeda cai e troco some do mercado

    Cortes no orçamento do BC prejudicam a produção de novas cédulas e moedas
    Murilo Rodrigues Alves

     

    BRASÍLIA

     

    Comerciantes e lojistas estão fazendo de tudo para conseguir moedas. De brindes e descontos aos clientes que facilitam o troco ao recurso a vendedores ambulantes e flaneli-nhas, vale qualquer esforço atrás dos trocados. Os apelos chegaram até mesmo às igrejas em busca do dinheiro miúdo. Essas táticas passaram a ser usadas depois que se tornou cada vez mais difícil obter moedas e notas de baixo valor nos bancos.

     

    As causas para o sumiço do troco na rede bancária são os cortes sucessivos no orçamento do Banco CENTRAL. Sem recursos, a instituição foi obrigada a reduzir as encomendas de moedas paramenos de um terço dos pedidos feitos no ano passado. Em cédulas, foram solicitadas menos da metade das unidades de 2013, segundo o contrato firmado entre o BC e a Casa da Moeda, responsável pela fabricação de dinheiro no País.

     

    No ano passado, a Casa da Moeda produziu 3,15 bilhões de cédulas e 2,3 bilhões de moedas de todos os valores para o BC. Neste ano, a previsão é fabricar 1,2 bilhão de cédulas e somente 945 milhões de moedas. Essas são as quantidades previstas em contrato para todo o ano. Mas, passados nove meses, afa-bricação está muito abaixo dessa previsão. E o orçamento destinado para esse fim já foi praticamente todo gasto.

     

    De janeiro a setembro, a Casa da Moeda produziu 654 milhões de cédulas e 286 milhões de moedas, quantidade significativamente inferior à dos últimos anos. Em 2012, foram 2,8 bilhões de cédulas e 1,2 bilhão de moedas. Até o momento, porém, não há evidências de que essa produção menor tenha se refletido em diminuição da base monetária o dinheiro em circulação. Uma hipótese para isso é que, para economizar, o BC tenha, por exemplo, mandado imprimir uma nota de R$ 100 no lugar de cinco de R$ 20 ou de 50 de R$ 2.

     

    Corte. Defensor da austeridade fiscal do setor público para a contenção dainflação, oBC provou do próprio “remédio”: o orçamento da autoridade monetária com custeio administrativo e despesas com investimento foi cortado em 28% neste ano.

     

    Dados obtidos pelo Estado mostram que, para a produção de cédulas e moedas, o Departamento de Meio Circulante teve aprovados R$ 208,1 milhões em 2014. Nessa conta, estão também a produção de moedas comemorativas, como as da Copa do Mundo, que são mais caras. Desse valor, R$ 205,6 milhõesjá foram gastos até o dia 10 de outubro. Em 2013, o orçamento para a fabricação de dinheiro foi 500% maior: oBC tinha R$ 1,261 bilhão, dos quais R$ 1,234bilhão foram efetivamente gastos.

     

    O BC admite que acontenção de gastos atrasa a reposição das notas desgastadas e danificadas pelo uso por novas cédulas. “O BC vem buscando aumentar o prazo de circulação das notas, sem contudo descuidar-se de recolher aquelas com elevado nível de desgaste”, disse, em nota.

     

    Em média, avidaútil das cédulas de pequeno valor, que circulam mais, é de pouco mais de um ano. As novas notas, da segunda família do real, receberam uma camada de verniz para aumentar a vida útil.

     

    Neste ano, foram colocadas em circulação 690 milhões de unidades de novas moedas – número superior à quantidade que foi fabricada. Ou seja,o Banco CENTRAL tinha unidades fabricadas guardadas.

     

    Redução

     

    3,15 bilhões

     

    foi o total de cédulas fabricadas pela Casa da Moeda em 2013

     

    2,3 bilhões

     

    foi o total de moeda de todos os valores produzidas para o Banco CENTRAL no mesmo período

     

    1,2 bilhão

     

    é o total de cédulas para 2014

     

    Fonte: O Estado de S. Paulo

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