Fed influencia mais o real do que os indicadores brasileiros

    Divulgação do déficit em conta corrente pouco afetou o preço do dólar ontem. Corretoras, consultorias e gestoras se voltam ao banco central norte-americano antes de projetarem a cotação da moeda no curto prazo

    Marcelo Loureiro

     

    As projeções do mercado para a cotação da moeda norte-americana até dezembro está sofrendo maior influência das expectativas em torno das próximas decisões do Federal Reserve (Fed) do que do cenário interno. Para especialistas, o elevado déficit fiscal brasileiro, e as expectativas acerca do aumento da inflação e da possibilidade de redução na nota de crédito brasileira não são os principais responsáveis pelas revisões das projeções do dólar. Ontem o dólar fechou cotado a R$ 2,28, um ligeiro recuo de 0,25% em relação à véspera.

    Na terça-feira, o dólar havia subido 1,96%. “Não estamos à beira do abismo”, tranquiliza Ricardo Denadai, economista-chefe da Santander Asset. A gestora do banco espanhol ocupou o quarto lugar do TOP 5 do Banco Central (BC) com as instituições participantes do Boletim Focus, publicação que mede as expectativas do mercado com relação a índices e câmbio.

    A posição de destaque do Santander foi conquistada em setembro pelas projeções de Denadai em relação ao dólar. O resultado, entretanto, não trouxe presunção ao trabalho do executivo. “A taxa de câmbio é o que ensina humildade aos economistas. A piada é velha, mas é válida. Sem usar ferramentas de econometria, acho que a variação do dólar hoje tem mais a ver com o cenário internacional do que com os indicadores brasileiros”, conta Denadai, que projeta a cotação da moeda norte-americana em R$ 2,25 para o fim de 2013, e em R$ 2,45 no fim de 2014.

    A expectativa quanto a cotação do dólar já foi maior, inclusive. Era de R$ 2,30 antes de o Fed indicar que a redução no programa de recompra de ativos deve ser postergada para 2014. Há cerca de duas semanas, pelo mesmo motivo, a Tendências Consultoria fez movimento idêntico. A instituição, também no TOP 5 do BC, cortou sua expectativa para a cotação no fim do ano de R$ 2,35 para R$ 2,20. “Expansão exagerada dos gastos públicos junto com a inflação alta e o baixo crescimento corroboram com a queda do real.

    Mas no curto e no médio prazo, não importa o que o governo faça, as contas continuarão ruins. O foco nos próximos meses é o FEDe o início dos desestímulos monetários. Essas variações recentes são exógenas”, explica Felipe Salto, economista da casa, lembrando o movimento feito pelo dólar em agosto, quando chegou a R$ 2,45 depois de o Fed indicar que pensava em diminuir a liquidez mundial.

    O Itaú, em relatório, manteve sua projeção para o fim de 2013 em R$2,35, escorado em sua crença de que o Fed mantém a política atual até março. Pesquisa da Reuters, de ontem, indicouque31bancos e consultorias mantiveram suas projeções para o dólar, que fechará 2013emR$ 2,40. “O déficit brasileiro está alto, crescente, a exemplo da inflação. Mas o principal drive no curto prazo é o Fed”, concorda Luciano Rostagno, economista-chefe do Banco Mizuho, que projeta o dólar em R$ 2,25 em 31 de dezembro.

    Outro fator externo que pode afetar a cotação do real, na visão de Rostagno, é um rebaixamento da nota de crédito brasileira. “Mas ela seria a consequência do problema que os investidores, e até o governo, já identificaram: os indicadores brasileiros estão deteriorados.” Até quem não opera diretamente com câmbio procura se defender.

    Fernando Araújo, gestor da FCL Capital, projeta o dólar internamente acima de R$ 2,30 e em R$ 2,60 no fim de 2014. “Mudamos a carteira de ações há um ano. Empresa de consumo voltada para o mercado interno não interessa mais. A carteira agora está recheada com exportadoras. Braskem, Gerdau e Minerva são alguns dos exemplos de empresas que se valorizam nesse ambiente”, ensina Araújo.

     

    Fonte: Brasil Econômico

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