Fluxo financeiro em 2017 fica negativo em US$ 52,3 bi

    Lucas Hirata e Lucinda Pinto | De São Paulo

    Num ano marcado por um forte volume de captações corporativas, bolsa em nível recorde e o ambiente externo favorável a emergentes, o saldo entre entradas e saídas de recursos estrangeiros na conta financeira ficou negativo em US$ 52,299 bilhões. Esse foi o maior Déficit na conta financeira da série histórica desde 2000, superando o registrado em 2016 quando o fluxo ficou negativo em US$ 51,562 bilhões.

    O resultado foi mais do que compensado pela conta comercial, que ficou superavitária em US$ 52,924 bilhões, garantindo assim um saldo positivo para o fluxo cambial de US$ 625 milhões no ano. E revela o efeito da instabilidade vista ao longo de 2017 na cena política e que afetou, diretamente, o apetite do investidor. Mas também é fruto, em parte, da melhora da atividade econômica, que dá impulso às remessas de lucros e dividendos pelas empresas.

    A leitura positiva sobre o crescimento econômico global segue direcionando o dólar, que voltou a fechar ontem em queda. A moeda americana encerrou a R$ 3,2354, em baixa de 0,75%, num movimento alinhando ao mercado externo.

    Com o recuo, o dólar passa a acumular queda de 2,36% no ano. A visão dos analistas é que, com a trégua do noticiário doméstico, o mercado poderá reagir mais à dinâmica externa, o que pode manter a tendência positiva para o real.

    O movimento foi acompanhado pelos Juros futuros. O contrato de DI para janeiro de 2019 fechou em 6,785%, ante 6,805% da terça. O DI janeiro de 2021 terminou a 8,86%, de 8,88%. E o DI janeiro de 2023 caiu a 9,76%, de 9,80%.

    Embora 2017 tenha sido um ano positivo para captações externas – que somaram US$ 31,9 bilhões, ante US$ 20,4 bilhões em 2016 -, os picos de incerteza política e a postergação do ajuste fiscal inibiram um quadro mais positivo. “Tínhamos desenhado um ano positivo, só não foi assim por conta da forte crise política de maio e as consequências que vemos até hoje”, diz o operador Cleber Machado Neto, da H.Commcor.

    Basta olhar o comportamento do fluxo financeiro em junho, após a delação da JBS, que ficou negativo em US$ 8,928 bilhões, o segundo pior desempenho mensal de 2017. O pior mês foi dezembro, com saída de US$ 15,604 bilhões. Mas, neste caso, é a saída sazonal das remessas que pressiona o resultado. E, dado o quadro de atividade econômica em recuperação, essa foi a maior saída para um mês de dezembro desde 2000.

    “A retomada da atividade e a percepção de risco cambial pela frente pode ter levado empresas a anteciparem as remessas em dezembro”, afirma Bruno Lavieri, economista da 4E Consultoria. Ele lembra que, dada a proximidade da eleição, o risco de uma desvalorização do Câmbio para além de R$ 3,30 torna-se maior.

    Mesmo com as persistentes indefinições na política, o primeiro trimestre de 2018 deve contar com um quadro mais positivo. A expectativa no mercado é de que a janela de captações externas por empresas brasileiras e o investimento estrangeiro direto resultem na entrada de recursos no país. Em menor escala, essa conta também é beneficiada pelas ofertas iniciais de ações (IPO), que costumam atrair interesse dos investidores de fora do país.

    Já do lado das remessas, Julia Gottlieb, economista do Itaú Unibanco, diz que a retomada em curso da atividade pode elevar as saídas dos itens de serviços e rendas. “Mas o investimento direto deve se manter resiliente”, afirma.

    As contas externas, incluindo o fluxo de entrada de capital, justificam projeções de taxa de Câmbio bem-comportada nos primeiros meses do ano. Por outro lado, a intensificação da corrida presidencial no Brasil e os sinais de desaceleração de estímulos globais voltam a inibir os investimentos e a alocação de capital no país em 2018.

    “Pode ser que o processo de retirada de estímulos globais seja bem gradual, mas a liquidez não será tão ampla”, diz o economista-chefe do Rabobank Brasil, Maurício Oreng. A mudança do cenário externo é algo que deve até contrabalançar uma possível animação dos investidores com o quadro eleitoral. “Não vejo condições para enxurrada de capital no país em 2018”, acrescenta o especialista, que vê o dólar em R$ 3,40 no fim do ano.

    Fonte: Valor Econômico

    Matéria anteriorFórum das carreiras de Estado entra com representação contra ministro
    Matéria seguinteAta mostra Fed atento a efeito de corte de impostos