FMI vê Brasil no fundo do poço

    Fundo Monetário Internacional projeta queda de 1,5% no Produto Interno Bruto para este ano. Recuo na atividade só será menor do que o da Rússia. Falta de confiança de empresários e de consumidores e alta dos juros influenciaram na projeção

    O Fundo Monetário Internacional (FMI) traçou ontem um quadro devastador para a economia brasileira neste ano. Em vez de cair 1%, o país encolherá 1,5%, o segundo pior resultado entre as principais nações listadas pelo organismo multilateral. O resultado será melhor apenas que o da Rússia, que deverá afundar 3,4% este ano – um pouquinho menos que os 3,8% previstos em abril. O FMI reduziu também a estimativa de crescimento para o Brasil em 2016, de 1% para 0,7%. 

    Pelas novas previsões do Fundo, o mundo crescerá 3,3% neste ano, menos que os 3,5% estimados em abril, principalmente, por conta das crise grega que deve afetar a expansão na União Europeia. Entre os países dos Brics, apenas o Brasil registrou corte nas projeções. As da Rússia tiveram aumento em 2015 e em 2016. Já as da China, da Índia e da África do Sul ficaram inalteradas nos dois anos (veja quadro). 

    O economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, destacou a falta de confiança dos empresários e dos consumidores e a forte alta dos juros como alguns dos motivos para a piora nas previsões para o país. “O que está acontecendo no Brasil é a combinação da queda na confiança do empresário e do consumidor, que acaba por desencadear a queda no consumo e do investimento”, disse. 

    Para Blanchard, as medidas de ajuste fiscal tomadas pelo governo, para recuperar a credibilidade, e as do Banco Central, para conter a inflação, elevando os juros, estão “no caminho certo”. “O Brasil vai passar por uma recessão (em 2015), mas deverá voltar a crescer no ano seguinte”, afirmou. “Estamos prevendo um crescimento positivo em 2016. Os ajustes devem trabalhar na direção certa, mas este ano vai ser duro”, completou. 

    As projeções do FMI costumam ser bem mais otimistas do que as do mercado. Especialistas afirmam que a atualização dos dados apenas balizou o mínimo da queda do PIB brasileiro esperada para este ano. “Esse número do Fundo, aparentemente, virou o piso das estimativas do mercado, que estão mais próximas de uma queda de 2% do que de 1,5%, neste ano, e próximo de zero ou abaixo disso em 2016, “, comentou o economista-chefe da INVX Global Partners, Eduardo Velho.

     

    Pessimismo

    O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, faz previsões bem piores do que as do FMI, indicando uma recessão profunda na economia brasileira: de 2,1%, neste ano, e de 0,6% no ano que vem e uma recuperação apenas depois de 2018. “Dois anos seguidos de queda sugerem mais dificuldade de reversão do quadro de dificuldades”, afirmou. 

    Vale lembra que, se o governo aumentar muito o gasto público, além de piorar o resultado fiscal, colocará em risco o investment grade, a nota de bom pagador do país perante os mercados internacionais. “É um período duro que temos que passar, e mesmo que seja um ajuste lento, pode deixar a casa mais arrumada para 2019”, apostou. 

    Na avaliação de Vale, essa recuperação dependerá se o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, conseguirá continuar fazendo o que se propôs. Procurado, o ministro evitou comentar os novos dados do FMI.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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