FMI vê o Brasil em risco

    Com o terceiro maior rombo nas contas externas em todo o mundo, o país está vulnerável a crises, alerta a instituição

    O Fundo Monetário Internacional (FMI) fez um alerta ontem ao Brasil: o deficit das contas externas do país é o terceiro mais elevado do mundo e já ultrapassa o limite de equilíbrio para mercados emergentes. “O governo brasileiro precisa começar a trabalhar para reduzir esse descompasso”, afirmou o vice-chefe de divisão do Departamento de Pesquisa da instituição, Marco Terrones, ao comentar um estudo que compara a situação das principais economias globais em 2006 e em 2013.

     

    No ano passado, o Brasil teve um rombo de US$ 81 bilhões na conta de transações correntes, que inclui a balança comercial e as operações financeiras, como pagamento de juros e remessa de lucros. O saldo negativo foi inferior apenas ao dos Estados Unidos (US$ 400 bilhões) e do Reino Unido (US$ 114 bilhões). O montante correspondeu a 3,6% do Produto Interno Bruto (PIB). O relatório do Fundo considera 3% o limite a partir do qual o deficit externo deixa um país emergente em situação de vulnerabilidade diante de crises cambiais.

     

    A deterioração das contas externas se intensificou nos últimos anos. Em 2006, o país tinha superavit de US$ 13,6 bilhões, enquanto nações desenvolvidas apresentavam saldos negativos elevados. Os EUA, por exemplo, ostentavam um rombo de US$ 807 bilhões, que conseguiram reduzir à metade em sete anos. Em termos de proporção do PIB, o deficit norte-americano é hoje de 2,4%, inferior ao brasileiro. Somente Turquia (7,9%) e Reino Unido (4,5%) têm desequilíbrio superior ao do Brasil nas transações com o exterior.

     

    O levantamento do FMI faz parte do estudo anual Panorama Econômico Global, que será apresentando neste mês pela diretora-gerente da instituição, Christine Lagarde. O trabalho conclui que os desequilíbrios internacionais, medidos pelos deficits em transações correntes, diminuíram em mais de um terço desde 2006, devido, entre outros motivos, à queda da demanda em países como os EUA.

     

    O relatório também mostrou um salto do Brasil no ranking dos países com os maiores passivos estrangeiros líquidos: US$ 750 bilhões, em 2013, atrás apenas de Estados Unidos e Espanha. Em 2006, o país tinha uma dívida de US$ 349 bilhões e ocupava a sexta colocação na lista.

     

    Preocupação

    “As contas dos países desenvolvidos estão melhorando às custas do endividamento dos emergentes”, comentou o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito. “No caso do Brasil, o crescimento da nova Classe C está vazando demanda para o resto do mundo”, alertou.

     

    Na avaliação do economista, o deficit resulta, em parte, do real valorizado, que encolheu as exportações e aumentou as importações. A seu ver, uma das soluções é desvalorizar a moeda nacional. O professor da Fundação Getulio Vargas Ernesto Lozardo destacou que o passo inicial é reequilibrar as contas públicas.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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