Funcionários do IBGE em 5 Estados aprovam proposta de paralisação

    Alessandra Saraiva e Diogo Martins Do Rio

    Funcionários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de Alagoas, Espírito Santo, Maranhão, Pernambuco e parte dos servidores do Rio, entre os quais os que trabalham na diretoria de pesquisas, aprovaram, em assembleias realizadas ontem, estado de greve.

    Isso significa que essas unidades poderão interromper atividades a qualquer momento, caso as exigências feitas à direção do IBGE não sejam atendidas.

    Para a próxima terça-feira, foram aprovadas paralisações de 24 horas nas unidades de São Paulo e Paraíba.

    Os servidores do instituto pedem retratação pública da presidente Wasmália Bivar, que no dia 10 suspendeu a divulgação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua para revisão do cálculo de rendimentos, que servirá como base para rateio do Fundo de Participação dos Estados. A decisão irritou a área técnica.

    Os funcionários, representados pelo sindicato ASSIBGE, exigem também que a direção do IBGE abra negociações com o Ministério do Planejamento – ao qual o instituto é subordinado – para a contratação de funcionários, recomposição orçamentária, reajuste salarial e autonomia técnica nas pesquisas produzidas.

    Com o corte de gastos do governo federal, o orçamento do IBGE foi reduzido em 14%.

    “Estamos dispostos a parar com todas as pesquisas. Tem de haver retratação da direção”, disse Ana Magni, diretora do sindicato.

    Segundo ela, as assembleias acontecerão até a semana que vem em outras unidades estaduais para aprovação de estado de greve. Ana afirmou que o sindicato pediu há duas semanas reunião com a direção do IBGE, mas não foi atendido.

    Procurado, o IBGE informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que a presidente avalia o pedido de reunião e que ela não se pronunciaria sobre as assembleias e a possibilidade de greve.

    Cimar Azeredo, coordenador de trabalho e rendimento do IBGE, disse que os técnicos continuam “trabalhando muito” na elaboração dos relatórios a serem apresentados à direção do instituto, atestando a metodologia da Pnad Contínua. Ele disse que não há data para a entrega desses documentos, mas afirmou que está “o t i m i s t a” com o retorno das divulgações da pesquisa.

    Ontem, o Ministério Público Federal de Goiás (MPF-GO) acionou na Justiça o IBGE para garantir o retorno da divulgação da Pnad Contínua. O procurador da República Ailton Benedito pediu antecipação de tutela no caso – medida que adianta ao requerente, total ou parcialmente, os efeitos do julgamento de mérito, em primeira instância ou em recurso. Na ação, Benedito pediu, ainda, liminar para que o IBGE dê prosseguimento ao cronograma pré-estabelecido na divulgação da pesquisa, que previa anúncio dos próximos resultados no dia 3 de junho.

    No caso de retardamento ou omissão no cumprimento da ordem judicial, o Ministério Público pede aplicação de multa diária de R$ 1 milhão ao IBGE e de multa diária pessoal, no valor de R$ 100 mil, aos agentes públicos que dirigem o órgão. O IBGE disse que ainda não foi notificado da decisão pela Justiça.

    Indústria permanece pessimista em abril, diz FGV

    Os empresários da indústria permanecem pessimistas em abril e não veem sinal de melhora na atividade industrial nos próximos meses. A avaliação partiu do Coordenador de Sondagens Conjunturais do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), Aloisio Campelo.

    Ele fez a observação ao comentar sobre o aumento de 0,3% na prévia do Índice de Confiança da Indústria (ICI) deste mês, divulgada ontem pelo Ibre/FGV. Caso confirmada, seria o primeiro resultado positivo do indicador no ano.

    Esse aumento, no entanto, não indica melhora futura para o cenário industrial, na análise dele. Na prática, ajustes nos estoques melhoraram a avaliação do empresário sobre a situação atual – o que puxou para cima a prévia do ICI de abril. “As expectativas continuaram negativas em abril”, afirmou.

    A indústria tem lidado com patamar elevado de estoques desde o segundo semestre do ano passado, lembrou ele. Houve ligeira melhora em janeiro; mas que foi seguida por novos sinais de aumentos, em fevereiro e em março desse ano – e sinais de melhora na prévia do ICI de abril, anunciada ontem. Mas a redução dos estoques não ocorreu de forma generalizada.

    Campelo explicou que, entre as categorias de uso, a melhora no nível de estoques, em abril, ocorreu principalmente na indústria de não duráveis. “As indústrias de bens de capital e de duráveis continuam muito estocadas em abril”, acrescentou.

    Para Campelo, o contexto atual não é favorável para melhora na demanda da indústria e, por consequência, para o reaquecimento na atividade do setor.

    Ele lembrou que permanecem indicativos de continuidade no endividamento elevado das famílias, com juros elevados e crédito mais caro. Ao mesmo tempo, o mercado externo, que poderia ser uma válvula de escape para a produção industrial brasileira, em momentos de desempenho interno fraco, não opera em condições competitivas com câmbio desfavorável e crise na Argentina, um dos principais parceiros comerciais do Brasil.

    O especialista lembrou ainda que o governo não tem ensejo de promover novas rodadas de isenção ou redução do IPI para a indústria, devido ao impacto dessas medidas no equilíbrio fiscal da União.

    Isso, na prática, também não contribuiria para uma possível reação na atividade industrial.

    Esses fatores reunidos levam o empresário a não visualizar perspectiva de melhora, na demanda e na atividade, nos próximos meses, avaliou ele. Campelo comentou que isso contribuiu para ritmo mais fraco no Nível de Utilizacão de Capacidade Instalada (Nuci), cuja prévia de abril indica queda de 0,2 ponto percentual em relação a março desse ano.

    Campelo chamou atenção para a pontuação do Índice de Confiança da Indústria (ICI), que opera abaixo de 100 pontos desde agosto do ano passado – sendo que, quanto mais distante dessa faixa, pior o resultado. Na prévia de abril, o ICI indica desempenho de 96,5 pontos no mês. “A última vez em que tivemos um ICI abaixo de 100 pontos foi na crise de 2009, e também por período de nove meses”, disse, não descartando a possibilidade de, esse ano, o indicador cair por tempo mais prolongado do que o observado durante a crise global. “Por enquanto, não há expectativa de melhora. Os empresários não vislumbram atividade mais forte no futuro. Continuamos em um período de desaceleração da atividade”, disse. (AS)

     

    Fonte: Valor Econômico

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