Gasto com financiamento da dívida será quase 9 vezes superior ao total investido

    Autor: Estevão Taiar

    Os gastos do governo federal com o financiamento da dívida pública devem ser quase nove vezes maiores do que os investimentos realizados pelo Executivo nacional neste ano. A estimativa é que as despesas com o financiamento cheguem a R$ 379 bilhões até o fim de 2017, enquanto os investimentos não passarão de R$ 44 bilhões. Se confirmada, essa será a segunda maior diferença entre as duas rubricas desde 2007.

    Os cálculos estão em boletim produzido por Antonio Corrêa de Lacerda, coordenador do programa de pós-graduação em economia política da PUC-SP, e André Paiva Ramos, mestre em economia política também pela PUC-SP. Eles trabalham com um cenário em que a Selic, atualmente em 10,25%, chegará a 8% no fim do ano.

    Em 2015, as despesas com o financiamento da dívida superaram em nove vezes os investimentos do governo federal. No entanto, naquele ano, a desvalorização do real fez com que o BC tivesse prejuízo de quase R$ 90 bilhões com swaps cambiais – instrumento que também entra na conta de financiamento da dívida, usado pela autoridade monetária para evitar desvalorizações bruscas do real. Neste ano, a tendência é que, mesmo se houver prejuízo com swaps cambiais, eles sejam muito menores.

    Nos cálculos dos economistas da PUC-SP, as despesas relacionadas à dívida devem pular de uma média de 4,8% do PIB do período de 2012 a 2014 para uma média de 6,9% entre 2015 e 2017. Esse salto pode ser explicado por dois fatores: aumento dos Juros e encolhimento do PIB.

    De abril de 2013 a setembro de 2015, a Selic subiu de 7,25% para 14,25%, a fim de combater um ciclo inflacionário que levou o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) a 10,67% em 2015. A Taxa Básica de Juros só voltou a cair em outubro do ano passado, até chegar aos atuais 10,25%. Já o PIB encolheu 7,2% somadas as quedas de 2015 e 2016, o maior recuo da série histórica do IBGE.

    Simultaneamente, mesmo com o recuo do PIB, os investimentos do governo federal seguem em queda. Depois de atingirem o pico de R$ 77,5 bilhões em 2014, a tendência é que fiquem em R$ 44 bilhões neste ano, de acordo com os economistas da PUC-SP. A estimativa deles para a Selic no fim do ano (8%) é mais otimista do que a do último boletim Focus (8,25%). Mesmo assim, “o custo de financiamento da dívida continuará bastante relevante”, diz Corrêa de Lacerda.

    Fonte: Valor Econômico

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